terça-feira, janeiro 30, 2007

TRÁFICO


COMO É O TRÁFICO NA FAVELA?

Os pontos de tráfico de drogas, conhecidos como "bocas", operam como empresas, escondidos em favelas e bairros pobres das grandes cidades. Os criminosos se organizam em uma hierarquia preocupada em garantir duas coisas: o abastecimento constante de cocaína, maconha e outros entorpecentes e o sistema de proteção contra a polícia ou quadrilhas rivais.

Para garantir a eficiência do negócio, são contratados diversos funcionários. O esquema de segurança e a acirrada disputa entre traficantes põem em risco a vida de compradores e moradores da favela. "Até chegar à boca, o usuário tem que andar na favela. Ele é avaliado e nem percebe. Se os seguranças pensarem que ele é um policial disfarçado, atiram", diz o delegado Carlos Roberto Alves de Andrade, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado do Departamento de Narcóticos de São Paulo.

CRIME ORGANIZADO

Vários funcionários estão envolvidos no esquema de tráfico

Alto Escalão - Traficantes de maior hierarquia ficam posicionados sobre lajes e barracos, onde podem se proteger melhor e atirar em caso de tentativa de invasão. Carregam fuzis, ideais para combates a longa distância.

Aviõezinhos - Os garotos que levam a droga da boca para o cliente são mais comuns no Rio de Janeiro. Em São Paulo, onde as favelas são planas, a distância entre o consumidor e a boca é pequena, e o serviço deles nem sempre é necessário.

A Boca - Geralmente fica perto de riachos, esgotos ou barrancos, para dificultar a chegada da polícia. Em uma mesma favela, podem existir várias bocas e nem toda a droga fica aqui. Barracos conhecidos como "paiol" são usados para armazenamento de grandes quantidades e da munição da quadrilha.

Gerente da Boca - É responsável pela chegada da droga e pela contratação do pessoal. É ele quem comanda toda a operação dentro da favela e, por isso, é sempre alguém de muita confiança do dono da boca.

Seguranças - A função deles é proteger os arredores da boca da polícia e de traficantes rivais. Eles usam armas próprias para combate a curta distância.

Enquanto isso....
O dono da "boca" não lida diretamente com a venda da droga. Ele comanda o tráfico de um barraco ou casa afastada, por meio dos gerentes. Bocas bem-sucedidas podem transformar traficantes em homens ricos e bem de vida.

Como a polícia deveria agir?Uma investigação prévia e detalhada que inclua levantamento topográfico e informações de um policial à paisana. Policiais treinados em artes marciais e com preparo psicológico para enfrentar situações de risco sem necessidade de recorrer às armas de fogo. Um planejamento passo a passo da ação da favela. Nenhuma morte.Segundo o delegado Clóvis Ferreira de Araújo, supervisor do GOE (Grupo de Operações Especiais), essa é uma fórmula ideal para derrubar uma boca.Infelizmente, existem pouquíssimos grupos capacitados para esse tipo de ação no Brasil. Para se ter uma idéia, na grande São Paulo, onde a população é de 16 milhões de habitantes, o GOE conta apenas com 200 policiais com esse treinamento. "Sem preparação, fica difícil fazer uma incursão eficiente dentro de uma favela, onde o ambiente é hostil para quem não o conhece", diz Araújo.

INVASÃO IDEAL

Como agem os grupos mais bem treinados da polícia.

Formação do Grupo - A equipe que faz a invasão da boca de maior movimento reúne os policiais mais bem treinados. Ela é formada por seis homens organizados de forma que todos estejam protegidos em caso de ataque dos traficantes.

Policial Paisano - Disfarçado de morador da favela, o policial à paisana investiga a localização e o esquema de trabalho nas bocas, quem são os donos e seguranças e o tipo de armamento utilizado. Durante a ação, ele só participa se for necessário.

Entrando na boca - A polícia conta com um especialista em explosivos para o caso de os traficantes se esconderem nos barracos. Bombas de efeito moral, como gases pimenta ou lacrimogêneo, são usadas primeiro. Em último caso, são utilizados explosivos para arrombar portas, janelas e paredes.

Olho por olho - A troca de tiros só deve ocorrer se os traficantes começarem a atirar. "Eles decidem as armas que vamos usar: se querem fogo, usamos fogo", diz o delegado Clóvis de Araújo, do GOE. Armas não letais, que não colocam a vida de ninguém em risco, devem ser prioridade.

Negociador - O negociador entra em ação quando há algum refém. Ele tem que tentar convencer o bandido a soltar o prisioneiro sem que, para isso, haja necessidade de confronto.

Imobilização - Os policiais passam por um treinamento de artes marciais com enfoque na imobilização do inimigo. É uma mistura de várias lutas, como judô, jiu-jítsu, tae kwon do. Devem usar essas habilidades sempre que for possível evitar o uso de armas de fogo.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

ORIENTAIS


POR QUE OS ORIENTAIS TÊM OS OLHOS PUXADOS?


Tudo indica que isso seja resultado de uma adaptação evolutiva dos mongolóides, grupo biológico da espécie humana ao qual pertencem quase todos os orientais. Pelo menos é o que pregam as teorias científicas mais aceitas na atualidade. De acordo com essas hipóteses, a chamada fenda palpebral (o espaço entre a pálpebra superior e a inferior) é menor em japoneses, chineses, coreanos e outros povos por uma questão prática. "Provavelmente, esse traço deve ter sido uma vantagem para os habitantes de regiões frias, já que sua função é parecida com a dos óculos usados pelos esquiadores, que possuem um visor em forma de fenda para reduzir a luminosidade refletida pela neve. Essa explicação parece ser bastante lógica, porque os mongolóides surgiram em uma área gelada no norte da Ásia no final da última era glacial, há cerca de 10 mil anos", afirma o antropólogo Walter Neves, da USP. De fato, como o mar branco das regiões frias rebate até 85% da luz solar que chega à superfície, quem mora nesses lugares pode ter problemas de vista a longo prazo. "A radiação ultravioleta refletida pela neve pode causar cegueira momentânea, além de catarata e lesões de retina. Isso explicaria a predominância daqueles que têm olhos puxados na seleção natural", diz o oftalmologista Élcio Sato, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Não custa lembrar que, mesmo com a fenda palpebral mais fechada, os orientais enxergam perfeitamente.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

MODA


PARA QUE SERVE UM DESFILE DE MODA?

O objetivo final é esse mesmo que você está pensando: vender roupas. Mas faz muito tempo que desfiles deixaram de funcionar como uma vitrine das roupas que vão ser vendidas nas lojas. Um bom exemplo disso foi a última São Paulo Fashion Week, quando as modelos escaladas pelo estilista Jum Nakao usaram vestidos feitos de papel (foto ao lado), que foram destruídos ao final da apresentação.
Hoje, o mais importante num desfile é apresentar o conceito, a mensagem por trás da coleção - essa sim feita de peças de verdade. "Os desfiles são condutores da imaginação, criando vínculos entre o sonho e a realidade", explica Wanda Maleronka, professora da faculdade de moda Anhembi-Morumbi, em São Paulo. Nesse sentido, o que eles querem é despertar nas pessoas o desejo por aquela marca e tudo o que ela oferecer.Além disso, desfiles também são usados para informar tendências. Por exemplo, se brilhos estão em alta, é bem provável que um estilista apresente uma blusa exageradamente cheia de brilhos durante seu desfile. Na apresentação, a peça vai chamar a atenção e marcar a memória das pessoas. Mas a blusa que será vendida na loja é uma versão bem simplificada daquela. Afinal, seria impossível usar no dia-a-dia algumas das extravagâncias que vemos nas passarelas.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

MENINOS E MENINAS


POR QUE AZUL PARA MENINOS E ROSA PARA MENINAS?

A associação é tão comum que nem parece precisar de explicação, mas nem sempre meninos vestiram azul e meninas vestiram rosa. Segundo o livro Dictionary Of Omens and Supersticions ("Dicionário de Agouros e Supertições", sem tradução em português), o costume já existia na era pré-cristã, quando se acreditava que algumas cores podiam expulsar os espíritos nefastos que rondavam os recém-nascidos. Como bebês do sexo masculino eram mais valiosos, passaram a ser vestidos com roupas azuis, cor associada aos espíritos do bem (por ser a mesma do céu). As meninas, quando recebiam alguma atenção, ganhavam roupas pretas, cor-símbolo da fertilidade na cultura oriental, de onde possivelmente veio a crença nos espíritos. Foi só no século 19 que o rosa ganhou alguma ligação com a feminilidade, influenciado por uma lenda européia que diz que as meninas nascem de rosas e os meninos de repolhos azuis. Esse padrão, no entanto, não se disseminou por todo o mundo. Por um bom tempo, na França, as meninas se vestiam de azul, por causa da tradição católica, que associa a cor à pureza da Virgem Maria.

domingo, janeiro 21, 2007

HOMOSSEXUALIDADE


HOMOSSEXUALIDADE É DOENÇA?

Não. A comunidade médica é unânime ao afirmar que nenhuma orientação sexual é doença. Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a palavra da lista de transtornos mentais ou emocionais e a decisão foi seguida por todas as entidades de psicologia e psiquiatria no mundo.
Mas a questão voltou à tona nos últimos meses por causa de um projeto de lei - inédito no mundo - que está tramitando na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. O deputado estadual e pastor evangélico Édino Fonseca (PSC) propõe que verbas públicas sejam usadas no tratamento de pessoas que "voluntariamente optarem por deixar a homossexualidade". No caso de menores, os pais poderão escolher se a criança ou o adolescente deve passar pelo tratamento. Para Édino, a homossexualidade é um distúrbio psicológico. "O tratamento vai desfazer os bloqueios que levaram aquela pessoa à homossexualidade", diz.Apesar de o Conselho Federal de Psicologia pedir que psicólogos não colaborem com serviços que propõem uma "cura" da homossexualidade, o projeto já foi aprovado por três Comissões da Assembléia (Constituição e Justiça, Saúde e Combate à Discriminação) e está causando polêmica. Alguns o acusam de ser inconstitucional. "Se garante auxílio para um homossexual que queira ser heterossexual, e não para um heterossexual que queria ser homossexual, ele é discriminatório", diz o deputado Carlos Minc (PT). Outros o acusam de ser impertinente. "A origem da homossexualidade está em um somatório de fatores, mas ninguém sabe a causa", diz Carmita Abdo, responsável pelo Projeto de Sexualidade da USP. Se ninguém sabe a causa, como é possível um tratamento contra "bloqueios psicológicos" ser eficiente? E muita gente acusa o projeto de ser retrógrado. Afinal, soluções mágicas para combater a homossexualidade não são nenhuma novidade (veja arco-íris abaixo). "Mais importante que considerar a homossexualidade um problema psicológico, passível de ser tratado, é educar a população para respeitar as individualidades. Diferenças não são escolhas, e sim tendências que fazem parte da natureza da pessoas", diz Carmita.

sábado, janeiro 20, 2007

BEBÊ


QUE EXAMES SÃO FEITOS QUANDO A CRIANÇA ESTÁ NA BARRIGA DA MÃE?


Em geral o bebê é avaliado por três ultra-sons tradicionais, um a cada trimestre de gravidez, e por outros três exames de ultra-sonografia mais sofisticados - que detectam riscos de má-formação e verificam os batimentos cardíacos do feto. Essa é a rotina mais recomendada pelos médicos, mas existem exames opcionais que podem ser feitos. No segundo trimestre de gestação, por exemplo, é possível realizar um ultra-som morfológico, que revela mais detalhes anatômicos do bebê. Já no terceiro trimestre há quem opte por um ultra-som 3D (em três dimensões), que fornece imagens coloridas e mais claras da criança para os pais, mas que custa caro e não traz informações melhores para o médico. Outros exames também podem ser necessários dependendo de observações anteriores. "Se houver alteração na translucência nucal (uma das avaliações feitas pelo ultra-som), o médico pode recomendar uma biópsia na placenta para ver se o bebê tem algum problema de má-formação", diz o ginecologista Abner Lobão, da Unifesp.


Pré-natal obrigatório




Exame: Primeiro ultra-som

Tempo de gravidez: 6 a 8 semanas

Para que serve: Permite que se veja o número de bebês, revelando se a mãe terá gêmeos, por exemplo. Possibilita ainda verificar se o feto está localizado corretamente dentro do útero e qual é o tempo exato de gravidez



Exame: Translucência nucal

Tempo de gravidez: 10 a 14 semanas

Para que serve: Feito a partir de imagens de ultra-som, detecta riscos de má-formação por causa de alterações cromossômicas. Pode-se identificar possíveis problemas a partir da observação minuciosa da região da nuca do feto



Exame: Doppler do ducto venoso

Tempo de gravidez: 10 a 14 semanas

Para que serve: Também verifica, com mais precisão, riscos de má-formação. O doppler é um ultra-som sofisticado, que analisa o ducto venoso, um vaso sanguíneo do feto. Alterações cardíacas ali podem sinalizar problemas congênitos



Exame: Segundo ultra-som

Tempo de gravidez: 20 a 24 semanas

Para que serve: É possível avaliar a formação dos órgãos e dos membros do bebê, acompanhando seu crescimento. Os pais que quiserem também já podem conhecer o sexo da criança neste ultra-som



Exame: Terceiro ultra-som

Tempo de gravidez: 34 a 36 semanas

Para que serve: Confere se a posição da criança permanece em ordem. Também verifica o peso do bebê e a evolução do seu desenvolvimento, além de se avaliarem as condições da placenta e do líquido amniótico (que envolve o feto)



Exame: Cardiotocografia anteparto

Tempo de gravidez: a partir de 36 semanas
Para que serve: Também é um tipo de ultra-som. Um sensor, que funciona como um superestetoscópio, capta os batimentos cardíacos do bebê e as contrações do útero, conferindo se tudo está em ordem a poucas semanas do parto


CORUJA


POR QUE A CORUJA É SÍMBOLO DE SABEDORIA?

Por influência da mitologia grega, tanto que Atena, deusa da guerra e da sabedoria, tinha uma coruja como mascote. Os gregos consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual e a coruja, por ser uma ave noturna, acabou representando essa busca pelo saber. Há ainda uma outra explicação para tal relação, da qual, certamente, o animal não se orgulharia tanto. Com seus olhos grandes e desproporcionais, a coruja se tornou também símbolo da feiúra. Numa língua nórdica antiga, ela era chamada de ugla, palavra que imitava o som emitido pela ave e que daria origem ao termo ugly, "feio" em inglês. "Assim, a coruja segue o estereótipo do sábio, que geralmente é tido como alguém mais preocupado com as divagações interiores que com a aparência externa", diz o helenista (estudioso da civilização grega) Antônio Medina Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP). Mas não foi em todas as culturas que o animal se transformou em símbolo de inteligência. No Império Romano, por exemplo, a ave era considerada agourenta e seu canto anunciaria a proximidade da morte. Além disso, outros animais também foram usados em civilizações diferentes para representar a sabedoria, como a tartaruga para os chineses e o salmão para os celtas.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

HOLLYWOOD 2


É VERDADE QUE EXISTIA CENSURA EM HOLLYWOOD?

Sim.
Até meados do século XX, os filmes tinham que obedecer a uma série de proibições que ficaram conhecidas como Código Hays. No início dos anos 20, Hollywood era vista pelo resto dos Estados Unidos como a "cidade do pecado". Essa imagem ficou ainda pior quando o mais popular comediante da época, Roscoe "Fatty" Arbuckle, foi acusado de estuprar e matar uma aspirante a atriz em 1921. Para melhorar sua imagem, os estúdios de cinema decidiram, então, que os filmes deveriam passar por uma autocensura prévia e escolheram o advogado Will Hays para comandar a nova missão. Em 1924 todas as produções já passavam por seu crivo - e, em 1930, as regras de censura foram oficializadas no chamado Código Hays. A aplicação dessa espécie de cartilha conservadora atingiu o auge a partir de 1934, quando o departamento responsável pelo controle moral dos filmes caiu nas mãos do ativista religioso Joseph Breen. Apelidado de "o Hitler de Hollywood", Breen travou uma dura batalha contra o diretor e produtor Howard Hughes após assistir a uma exibição preliminar do filme O Proscrito (The Outlaw), de 1941. Sobre o filme, Breen escreveu: "Em mais de dez anos de analista crítico de filmes, eu nunca vi nada tão inaceitável quanto as tomadas do busto da personagem Rio (Jane Russell)". Breen mandou cortar 37 closes dos seios da atriz. Hughes, porém, recusou-se a modificar a obra e, desafiando o censor, lançou o filme em 1946 com uma publicidade provocadora: contratou aviões para escrever no céu o título do filme dentro de dois balões com um pequeno círculo no meio, numa clara referência aos atributos mamários de Jane Russell. Com contestações desse tipo, o Código Hays foi, aos poucos, perdendo sua força. Oficialmente, ele vigorou até 1966 - mas já havia caído em desuso muito antes. Dois anos depois, o sistema foi definitivamente substituído pela classificação por faixa etária.
Lista negra

Sexo apresentado de maneira imprópria
Cenas românticas prolongadas e apaixonadas
Ridicularizar funcionários públicos
Retratar religiosos de maneira pejorativa ou cômica
Filmes com o tema da escravidão branca
Destacar o submundo
Ofender crenças religiosas
Referências a doenças venéreas
Tornar os vícios atraentes
Tornar o jogo e a bebida atraentes
Enfatizar a violência
Uso de drogas
Nudez
Exibir em detalhes métodos de ação criminosa
Retratar gestos e posturas vulgaresMiscigenação e alusão ao amor entre brancos e negros

HOLLYWOOD


POR QUE HOLLYWOOD SE TORNOU A CAPITAL DO CINEMA?

Foram dois os motivos centrais que atraíram os primeiros produtores da indústria cinematográfica americana para Los Angeles (cidade onde fica o distrito de Hollywood): o clima californiano e a distância de Nova York. O primeiro era perfeito para filmagens: o sol brilhava o ano todo e as paisagens podiam ser facilmente adaptadas às mais variadas tramas - há ali tanto deserto quanto mar e montanhas para serem utilizados como cenários naturais. O segundo motivo explica-se pelo fato de os cineastas e produtores tentarem escapar do controle de patentes que o inventor americano Thomas Edison (1847-1931) tentava impor em Nova York. Depois de criar, em 1893, o kinetoscópio - precursor do cinematógrafo francês (lançado pelos irmãos Lumière dois anos depois) -, Edison obteve tanto sucesso que criou uma empresa, a Motion Pictures Patents Company, só para tentar controlar a lucrativa nova mídia. A companhia passou a colecionar processos contra todos que usavam a tecnologia patenteada por Edison sem pagar pelos direitos. Com isso, os primeiros aspirantes a cineastas americanos se mandavam para trabalhar no outro lado do país, na costa da Califórnia. O jornalista e escritor Otto Friedrich registra esses e outros fatos igualmente interessantes sobre o nascimento da indústria hollywoodiana no livro Cidade das Redes - Hollywood nos Anos 40.
Quadro a quadro

1887
Horace Wilcox, um milionário do setor imobiliário, tenta transformar uma região de campos de cevada, nos arredores de Los Angeles, em comunidade religiosa. Sua mulher, Daeida, é quem batiza o povoado de Hollywood, em homenagem à casa de campo de amigos da família em Chicago

1903
As terras de Hollywood são compradas por uma organização dirigida pelo general Moses Hazeltine Sherman. Empreendedor nato, Sherman - que, no futuro, seria sócio dos proprietários do jornal Los Angeles Times - foi um grande incentivador da expansão das ferrovias na região, dando impulso ao crescimento urbano

1907
Fugindo de uma tempestade em Chicago, a equipe de O Conde de Monte Cristo termina o filme em Los Angeles. O astro Francis Boggs gosta do clima e fica por lá, criando o primeiro estúdio californiano. No mesmo ano, The Power of the Sultan (O Poder do Sultão) seria o primeiro filme todo rodado em Hollywood

1909
O diretor Charles French - que também atuou em mais de 200 filmes até a década de 40 - bate um recorde. Ele produz, para a Bison Company, mais de 185 curtas-metragens em apenas oito meses! É um sinal inequívoco de que a indústria cinematográfica local começa a esquentar para valer

1914É fundado o primeiro grande estúdio, a Paramount, que teve origem num estúdio chamado Famous Players Film Company, comandado por Adolph Zukor. Em 1925, surge a Metro-Goldwyn-Mayer, ou MGM. Ambos representam a consolidação definitiva da capital do cinema mundial

quarta-feira, janeiro 17, 2007

HERÓI


POR QUE OS HERÓIS GREGOS E ROMANOS USAVAM COROA DE LOUROS?

A planta representava a vitória na Grécia e na Roma antigas. A origem do símbolo está na mitologia comum a ambas as culturas. Segundo ela, o deus Apolo teria se apaixonado pela linda ninfa Dafne, mas ela não nutria o mesmo sentimento por ele e fugiu para as montanhas, tentando escapar da sua perseguição. Dafne acabou pedindo proteção a seu pai, o deus Peneio, que optou por transformá-la num loureiro: foi assim que a ninfa venceu Apolo. "Por isso, os vencedores de qualquer tipo de competição eram coroados com folhas dessa planta. Entre os romanos, quando um comandante ganhava uma batalha, também enviava para o Senado um pergaminho envolto em folhas de louro, informando o ocorrido", diz a historiadora Maria Corassim, da Universidade de São Paulo (USP).

ESTILOS


COMO SE DEFINEM OS ESTILOS MUSICAIS?

Invisível e impalpável, a música é certamente a mais maleável de todas as formas de expressão. Essas qualidades tornam extremamente difícil e ingrata a tarefa de descrevê-la, classificá-la e rotulá-la. Dá para dizer, porém, que sua base é o ritmo, ou pulsação - que deve ter sido a primeira manifestação musical humana. Muito antes de existirem tambores, o homem provavelmente já dançava, marcando o ritmo com palmas ou batendo o pé. "As primeiras músicas compostas pelo ser humano acompanhavam danças ligadas a cerimônias religiosas", diz o antropólogo Rafael de Menezes, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Não é à-toa, portanto, que os diferentes tipos de ritmo sempre ajudaram a definir gêneros e estilos. O segundo elemento básico de uma composição musical é a melodia (seqüência de notas), que deve ter surgido com o canto também muito antes de existirem os primeiros instrumentos: flautas feitas de osso, datadas do final da Idade da Pedra, entre 10 mil e 20 mil anos atrás. Só muito tempo depois se desenvolveu a harmonia - a arte e a ciência de combinar as notas musicais em um todo coerente, não só em melodias, como em acordes (blocos de notas tocadas simultaneamente). "Foi uma evolução de séculos, que se deu principalmente a partir da Idade Média, quando a harmonia passou a adquirir maior relevância", afirma o maestro Júlio Medaglia. A relação entre ritmo, melodia e harmonia seria, assim, o primeiro passo na definição de um estilo musical - mas, muitas vezes, isso ainda não basta. Há vários estilos cuja identidade está ligada também a outros fatores - dos instrumentos utilizados à origem étnica (razão pela qual se fala em ritmos latinos e africanos), ao conteúdo emocional das letras (como os lamentos do blues ou do fado português) e até ao modo de interpretação (como a improvisação, característica essencial do jazz). Para complicar, hoje em dia ocorre todo tipo de fusão de estilos.
"Essa é uma arte que pode tudo", diz o musicólogo David Horne, diretor do Institute of Popular Music, em Liverpool, na Inglaterra. Segundo ele, não existe mais uma fronteira clara nem entre gêneros como o clássico e o popular, que historicamente sempre foram bem diferentes. "As fronteiras entre os estilos musicais estão cada vez mais indefinidas e essa flexibilidade é uma característica da própria música enquanto forma de arte", afirma Horne.
Ingredientes de uma composição
RITMOO compasso define a marcação rítmica. Um dos mais comuns é o quaternário, ou 4/4 - uma batida forte e três fracas - que também pode ser representado por este símbolo

HARMONIA
A arte e a ciência de combinar notas em um conjunto coerente é o elemento mais complexo da música. Ela se expressa na formação de acordes, blocos de notas tocadas ao mesmo tempo - por isso, diz-se que é o aspecto vertical da música. A harmonia define também o tom de uma peça. Aqui, a clave de sol sozinha, sem nenhum sinal de bemol ou sustenido, indica que a tonalidade é dó maior

MELODIA
A seqüência de notas, enfileiradas como as palavras em uma frase, compõem a melodia. Costuma-se dizer que são o aspecto horizontal da música
O flamenco - anatomia de um estilo musical
Um dos elementos mais usados para identificar um estilo é sua origem étnica e regional. No caso do flamenco, por exemplo, começaríamos dizendo que é uma música tipicamente espanhola: nasceu no século XV, da fusão do canto cigano com a música folclórica da Andaluzia, de forte influência moura.
O ritmo, muitas vezes acompanhado de uma dança própria, é outra característica que ajuda a definir um estilo. Para o flamenco, essa descrição também encaixa perfeitamente: tem uma batida de marcação forte e sua coreografia reforça esse ritmo com o sapateado das dançarinas

Nem sempre os instrumentos utilizados caracterizam um estilo, mas no flamenco eles certamente fazem parte da sua identidade musical - basicamente a soma do violão tocado no estilo chamado rasqueado com a percussão das castanholas, das palmas e das batidas dos sapatos de salto alto no chão

PARABÉNS


QUEM SÃO OS AUTORES DE "PARABÉNS A VOCÊ"?

A melodia da música foi criada pelas irmãs americanas Mildred e Patricia Smith Hill. Em 1875, essas duas professoras primárias de Louisville, no estado do Kentucky, resolveram compor uma canção para as crianças cantarem na entrada da escola. Nascia então "Good Morning to All" ("Bom dia a Todos"), com uma letra bem diferente da atual. As irmãs registraram a música em 1893, mas em 1924 ela apareceu sem autorização num livro editado pelo americano Robert Coleman, que surrupiou a melodia e a primeira frase de "Good Morning to All" - o segundo verso ele já alterou para "Happy Birthday To You", o popular "parabéns a você". Na nova versão, a música ganhou popularidade. Mas, em 1933, Jessica Hill, irmã das criadoras da melodia, resolveu brigar na Justiça pelos direitos autorais da música. Ela venceu: desde então, acredite se quiser, é preciso pagar royalties para tocar o "Parabéns" no rádio, na TV ou no cinema. Segundo a revista americana Forbes, a gravadora Warner - a atual detentora dos direitos da música - fatura em média 2 milhões de dólares por ano só com os royalties do "Parabéns". E como a música chegou ao Brasil? Por aqui, a rádio Tupi do Rio de Janeiro organizou em 1942 um concurso para escolher uma letra que casasse com a melodia de "Happy Birthday To You". A vencedora foi a paulista Bertha Celeste Homem de Mello, que até sua morte, em 1999, fazia questão de que as pessoas cantassem a letra do jeito que ela escreveu: "Parabéns a você / Nesta data querida / Muita felicidade / Muitos anos de vida."

NATAL


POR QUE O NATAL É COMEMORADO EM 25 DE DEZEMBRO?

Parece incrível, mas a escolha da data não tem nada a ver com o nascimento de Jesus. Os romanos aproveitaram uma importante festa pagã realizada por volta do dia 25 de dezembro e "cristianizaram" a data, comemorando o nascimento de Jesus pela primeira vez no ano 354. A tal festa pagã, chamada de Natalis Solis Invicti ("nascimento do sol invencível"), era uma homenagem ao deus persa Mitra, popular em Roma. As comemorações aconteciam durante o solstício de inverno, o dia mais curto do ano. No hemisfério norte, o solstício não tem data fixa - ele costuma ser próximo de 22 de dezembro, mas pode cair até no dia 25. A origem da data é essa, mas será que Jesus realmente nasceu no período de fim de ano? Os especialistas duvidam. "Entre os estudiosos do Novo Testamento e das origens do cristianismo, é consenso que ele não nasceu em 25 de dezembro", afirma o cientista da religião Carlos Caldas, da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Na Bíblia, o evangelista Lucas afirma que Jesus nasceu na época de um grande recenseamento, que obrigava as pessoas a saírem do campo e irem às cidades se alistar. Só que, em dezembro, os invernos na região de Israel são rigorosos, impedindo um grande deslocamento de pessoas. "Também por causa do frio, não dá para imaginar um menino nascendo numa estrebaria. Mesmo lá dentro, o frio seria insuportável em dezembro", diz Caldas. O mais provável é que o nascimento tenha ocorrido entre março e novembro, quando o clima no Oriente Médio é mais ameno.

TAMANHO


EXISTE CIRURGIA PARA AUMENTAR O TAMANHO DO PÊNIS?

Existem dois tipos de operação com esse objetivo: uma para aumentar o comprimento e outra para incrementar o diâmetro do órgão. Na primeira, o cirurgião faz o pênis crescer expondo um pedaço dele que normalmente fica escondido na pélvis. Na outra cirurgia, o médico enxerta algum material entre a pele e o interior do pênis, "inflando" o dito-cujo. São procedimentos simples: levam menos de uma hora e só requerem anestesia local. Mas o paciente deve avaliar com cuidado as conseqüências antes de encarar o bisturi. Nas duas cirurgias, os riscos envolvidos são consideráveis. E é justamente essa a causa da acalorada polêmica entre os médicos sobre o assunto. No Brasil, onde cirurgias assim são feitas desde o início da década de 90, o Conselho Federal de Medicina (CFM) acabou proibindo-as parcialmente em 1997, alegando insegurança e ineficácia. Muitos especialistas condenam a operação. "Essas cirurgias são anedóticas. Têm resultados péssimos", diz o urologista Joaquim de Almeida Claro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os médicos contrários à técnica também insistem que os homens que buscam o aumento do pênis deveriam procurar primeiro aconselhamento psicológico, pois a maior parte deles tem órgãos com tamanhos considerados normais. Mas, como o tema é controverso, os cirurgiões que praticam a operação discordam dessas avaliações: "O homem que sofre com isso questiona sua performance sexual o tempo todo. O desconforto que ele sente com o próprio corpo é enorme. Eu nunca vi psicólogo resolver isso", diz o cirurgião vascular Márcio Dantas de Menezes, da Sociedade Brasileira de Medicina Sexual. De qualquer forma, é bom frisar que o CFM, principal entidade médica do país, só autoriza a operação para homens com micropênis (órgão com menos de 2 centímetros) ou na reconstrução de tecidos para mutilados em acidentes.

DE OLHO NO COMPRIMENTO...
Como é a cirurgia: Após fazer uma abertura de 3 centímetros na pele acima da pélvis, o cirurgião corta os ligamentos que prendem a base interna do pênis aos ossos da bacia. Essa parte interna do órgão, então, projeta-se para fora, aumentando o tamanho do pênis em cerca de 2 centímetros. Esse procedimento dura aproximadamente 45 minutos
Os perigos: Depois da cirurgia, o paciente não deve fazer sexo por um mês. A operação pode trazer efeitos colaterais indesejados, como o risco da diminuição do ângulo de ereção e a retração do pênis se o órgão não cicatrizar bem. Também há perigo de infecções e quelóides (grandes cicatrizes permanentes)

...E TAMBÉM NO DIÂMETRO
Como é a cirurgia: O médico pode injetar em volta do pênis gordura (retirada do corpo do paciente), placas de colágeno (emprestadas de porcos) ou materiais sintéticos, como um gel derivado do petróleo. Essas substâncias expandem o tecido entre a pele do pênis e a albugínea, que envolve o interior do órgão. A cirurgia dura cerca de meia horaOs perigos: O paciente pode fazer sexo 36 horas após a cirurgia, mas deve continuar usando um aparelho de fisioterapia (uma armação em torno do pênis) até que o material do enxerto se distribua por completo - o que pode durar cerca de 3 meses. Um risco da operação é o pênis absorver mal o que foi injetado, o que pode torná-lo fino novamente ou disforme

OCEANOS

DE ONDE VÊM OS NOMES DOS OCEANOS?

O do Oceano Atlântico tem origem mitológica; o do Pacífico, histórica; e os dos três restantes (Índico, Glacial Ártico e Glacial Antártico), geográfica. Atlântico vem de Atlas, filho de Netuno - que era, na mitologia grega, deus dos mares e pai das Atlântidas, como eram chamadas as Plêiades, aglomerado de sete estrelas na constelação de Touro. Já o batismo do Pacífico remonta a 1520, ano em que Fernão de Magalhães percorreu o litoral sul-americano a oeste da Cordilheira dos Andes e ficou impressionado com a tranqüilidade de suas águas. O Índico, por sua vez, recebe o nome das costas que banha: Índia e Indonésia. Já o Ártico - situado no Pólo Norte, sob a constelação da Ursa Menor - deve sua identidade à palavra grega arctos, que significa urso. Por simples oposição geográfica, denomina-se Antártico o oceano próximo ao Pólo Sul.


CEGOS

COM QUE IMAGENS SONHAM OS CEGOS?

Como não têm memória visual, os cegos de nascença não sonham com imagens - e sim com os outros sentidos: ouvem coisas, têm sensações táteis e sentem cheiros. Também sonham que estão fazendo algum movimento e, assim como as pessoas que enxergam, é comum sonharem que estão voando ou caindo de grandes alturas. "Essas sensações estão presentes também nos sonhos das pessoas com vista normal. Só que nelas o sentido da visão predomina, chegando a ocupar 70% do sonho, enquanto os outros sentidos muitas vezes passam desapercebidos", afirma o neurologista Rubens Reimão, especialista em distúrbios do sono do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Se há um sentido que costuma predominar nos sonhos dos cegos, é o da audição. Já aqueles que não nasceram cegos, mas perderam a visão por doença ou acidente, possuem memória visual e podem sonhar com imagens. A quantidade e a forma dessas imagens irão depender da época de quando a pessoa perdeu a visão.
Se, por exemplo, ela ficou cega com menos de um ano de idade, serão imagens muito rudimentares, pois os bebês ainda não conseguem enxergar direito.

LIMITE

QUANTO TEMPO RESISTIMOS SEM COMER NEM BEBER?

Há registros de pessoas que suportaram até 200 dias sem comer, mas esse tempo sempre varia conforme a estatura. Sem água, porém, a resistência é bem menor e o estado de saúde torna-se bastante grave após cerca de 36 horas. Ficar sem comer por um a dois dias normalmente não ocasiona problemas que possam afetar gravemente a pessoa. Essa situação não costuma causar mais que tonturas e dores de cabeça. "O jejum não tem indicação para ser usado de forma rotineira do ponto de vista médico, mas tem sido praticado desde a antigüidade como preceito religioso para a purificação do espírito", diz o endocrinologista Danilo Alvarenga de Carvalho. Quando feito sem controle médico, porém, o jejum pode implicar em sérios riscos para a saúde, inclusive levando à morte. Sem a ingestão de alimentos, o organismo começa a queimar suas reservas de energia, principalmente as gorduras. Depois delas, consome as proteínas que compõem os tecidos.
Ficar muito tempo sem se alimentar também provoca diversas alterações metabólicas e hormonais, com perda de vitaminas e sais minerais, alterações da pressão arterial, desmaios e problemas psicológicos. Mas a falta de água é bem mais grave. Um homem de estatura média contém em seu corpo aproximadamente 40 litros de água, necessária para resfriar o corpo. Além disso, a água transporta as substâncias tóxicas que sobram da nutrição para serem eliminadas pelos rins e intestinos. Numa pessoa saudável, existe um equilíbrio entre a quantidade de líquidos ingeridos e eliminados. A perda desse equilíbrio em poucos dias é o suficiente para matar.

terça-feira, janeiro 16, 2007

SANGUE


POR QUE PESSOAS TATUADAS NÃO PODEM DOAR SANGUE?


Na verdade, essa proibição só vale nos 12 meses logo após a colocação da tatuagem. Trata-se de uma precaução para evitar o risco de contaminação do sangue doado por doenças como aids e hepatite, que podem ser transmitidas pela agulha do tatuador caso as condições de assepsia não sejam respeitadas. Doze meses é o tempo considerado seguro para que a pessoa desenvolva os anticorpos que são detectados no exame da aids, realizado após cada doação. Para diminuir os riscos de contaminação, é feita ainda uma entrevista para identificar se a pessoa faz parte de outros grupos de risco. Comportamento sexual promíscuo, uso de drogas ou viagens para países com epidemias são exemplos que podem excluir um voluntário da doação. Mas isso é raro: cerca de 80% das pessoas são aprovadas na entrevista. Feita a doação, o material segue para um laboratório, onde são realizados exames para detectar doenças como chagas, hepatite, sífilis e HIV. No Brasil, são feitas cerca de 3 milhões de doações por ano. "A quantidade é insuficiente, deixando a vida de milhares de pessoas em risco. Qualquer pessoa entre 18 e 65 anos de idade, com no mínimo 50 quilos, pode doar", diz a hematologista Aline Monteiro, da Fundação Pró-Sangue, em São Paulo, centro de coleta de sangue ligado à Secretaria Estadual de Saúde.

SORTE

COMO SURGIU O COSTUME DOS BISCOITINHOS DA SORTE CHINESES?

O hábito de trocar biscoitos com mensagens desejando sorte e felicitações surgiu no século 13. Nessa época, grande parte da China estava tomada pelo império mongol, moldado pelo temível guerreiro Temudjin, mais conhecido como Gêngis Khan. Após muitos anos de dominação, os chineses sentiram que os conquistadores estavam enfraquecendo e resolveram que era hora de agir. O povo dominado lutou bravamente por muitos anos, porém, para acabar de vez com a ocupação mongol, faltava arquitetar uma estratégia comum a todos os comandantes revoltosos espalhados pelo imenso país. O plano até foi traçado, mas aí pintou outra grande dificuldade: como transmitir as ordens de batalha sem que os mongóis espalhados por toda China as interceptassem? Esse impasse foi resolvido quando alguém teve a idéia brilhante de camuflar os planos de batalha dentro de tradicionais bolos no formato de meia-lua. Os chineses sabiam que teriam grandes chances de evitar que a estratégia caísse em mãos inimigas porque os mongóis simplesmente detestavam o sabor daquele tipo de bolo. Todos os generais locais receberam a versão primitiva do biscoito da sorte com os planos de batalha e a China conseguiu se livrar dos velhos invasores. A partir de então, todos os anos, os chineses passaram a trocar bolos e biscoitos em formato de meia-lua e recheados com mensagens para comemorar a brilhante tática usada para expulsar os mongóis.
Sorte grande

No Brasil, um fabricante chamado Hakuna Matata fornece o produto para os principais restaurantes e redes de comida chinesa. Ele vende cerca de 800 mil biscoitos da sorte por mês

Num lado do papelzinho da sorte pode-se ler uma frase e no outro uma conbinação numérica

A massa da guloseima é inserida num forno. Quando está quase assada, ela recebe o papel com a sorte e uma máquina dá ao biscoito seu característico formato de meia-lua

Os números são separados em dezenas e misturados em diversas conbinações aleatórias - manualmente ou usado um programa igual ao das lotéricas
As mensagens são pensamentos, provérbios ou até conselhos. Parte delas é traduzida de frases americanas, mas a maioria vem mesmo do I-Ching, um livro/oráculo oriental com mensagens simbólicas



CREMAÇÃO

COMO É FEITA A CREMAÇÃO DE CADÁVERES?

Basicamente, os corpos são colocados em fornos e incinerados a temperaturas altíssimas, fazendo carne, ossos e cabelos evaporarem. Só algumas partículas inorgânicas, como os minerais que compõem o osso, resistem a esse calor para lá de intenso. São esses resíduos que compõem as cinzas, o pozinho que sobra como lembrança dos restos mortais de uma pessoa cremada. "No corpo humano, não existe nenhuma célula que tolere uma temperatura maior que 1 000 ºC. Um calor como esse é suficiente para derreter até metais", afirma o médico legista Carlos Coelho, do Instituto Médico Legal de São Paulo. Apesar da aparência de prática moderna, a cremação é uma tradição de quase 3 mil anos. "Para as religiões do Oriente, queimar o cadáver é uma prática consagrada. O fogo tem uma função purificadora, eliminando os defeitos da pessoa e libertando a alma", diz o perito criminal Ugo Frugoli. No mundo ocidental, por volta do século 10 a.C., os gregos já queimavam em fogo aberto corpos de soldados mortos na guerra e enviavam as cinza para sua terra natal. Apesar desse histórico, a cremação foi considerada ilegal em várias épocas, principalmente por motivos religiosos. Para os judeus, por exemplo, o corpo não pode ser destruído, pois a alma se separaria dele lentamente durante a decomposição. Já os espíritas pedem que o cadáver não seja incinerado antes de 72 horas - segundo eles, esse é o tempo necessário para a alma se desvincular do corpo. Entre os católicos, evangélicos e protestantes, não há restrições tão severas. No Brasil, a cremação é regulada pela Constituição. Quem quiser ter o cadáver reduzido a pó precisa deixar essa vontade devidamente registrada, com documento assinado por testemunhas e reconhecido em cartório. No fim de tudo, pode ser opção econômica para quem não tem onde cair morto. Enquanto um sepultamento simples custa pelo menos 200 reais, o serviço pago em um crematório público numa cidade como São Paulo, por exemplo, sai a partir de 105 reais.
De volta ao pó

1. O processo de cremação começa quando a pessoa ainda está viva. Não se assuste - é que ela precisa registrar em cartório a vontade de ter seu corpo transformado em pó. Em relação a um sepultamento comum, as diferenças aparecem depois do velório, quando o caixão não é levado até a cova, mas para uma sala refrigerada. Em alguns crematórios, um elevador se abre no chão e desce com o corpo até o andar de baixo, onde ficam as geladeiras
2. No subsolo funciona a chamada câmara fria. No crematório de São Paulo, por exemplo, o cômodo gelado é uma sala revestida de azulejos e com isolamento térmico, onde ficam prateleiras metálicas com capacidade para até 4 caixões. Os falecidos passam 24 horas no frio. Nesse período, a família ou a polícia podem requisitar o corpo de volta, no caso de mortes violentas como assassinatos
3. Depois de um dia na geladeira, o cadáver entra em um forno com todas as roupas e ainda dentro do caixão - apenas as alças de metal são retiradas. Sustentado por uma bandeja que impede o contato direto com o fogo, o caixão é submetido a uma temperatura de 1 200 ºC. Esse calor faz a madeira do caixão e as células do corpo evaporarem ou volatilizarem, passando direto do estado sólido para o gasoso. O cadáver começa a sumir
4. Depois de até duas horas no forno, apenas partículas inorgânicas como os óxidos de cálcio que formam os ossos resistem à onda de calor. Esses restos são colocados no chamado moinho, uma espécie de liquidificador que tritura os ossos com bolas de metal que chacoalham de um lado para o outro

5. O moinho funciona por cerca de 25 minutos. Depois dessa etapa, as cinzas em pó são guardadas em urnas e entregues à família do morto. No final do processo, uma pessoa de 70 quilos fica reduzida a menos de um quilo de pó. Em uma cidade como São Paulo, uma cremação custa a partir de 105 reais, metade do preço de um enterro simples

ATLETAS

POR QUE ALGUNS ATLETAS TÊM MORTES FULMINANTES?

Eles estão sujeitos a mortes súbitas na mesma freqüência que indivíduos comuns e sedentários. Para isso, basta o atleta ter predisposição ou uma doença crônica. "Como são pessoas públicas, eles são mais observados que um cidadão comum e o caso se torna maior. Mas mortes súbitas sempre aconteceram, não estão aumentando", diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, da Unifesp. Calcula-se que no Brasil, a cada ano, cerca de 160 mil pessoas sejam vítimas de mortes fulminantes. Só que isso não rende muita notícia. Mas basta a vítima ser um atleta mais conhecido, como o jogador de futebol camaronês Marc Vivian Foe, para o caso ganhar os jornais. É bom lembrar, porém, que algumas características do dia-a-dia dos atletas são fatores agravantes. A hipertermia, ou seja, o aquecimento excessivo do corpo, especialmente em dias de calor e alta umidade do ar, é um deles. Outro é o possível uso de anabolizantes, pois o usuário tende a ter um aumento no nível de colesterol, o que compromete as funções cardíacas. Por falar nisso, ao contrário do que se pensa, essas mortes repentinas não são sempre relacionadas ao coração. Também podem acontecer óbitos fulminantes ligados a problemas pulmonares ou neurológicos. Para evitar novos sustos, os médicos recomendam, além de exames preventivos mais rigorosos, que os estádios e ginásios passem a contar com mais recursos, como aparelhos adequados para ressuscitação.
Luto em campo

Quem morreu: Marc Vivian Foe, da Seleção de Camarões, em junho de 2003
O que aconteceu: Na partida Camarões 1 x 0 Colômbia, transmitida ao vivo para o mundo todo, Foe, de 28 anos, caiu inconsciente. Há dúvidas se ele teve uma parada cardíaca ou se morreu por um problema neurológico

Quem morreu: Maximiliano Ferreira, do Botafogo (SP), em julho de 2003
O que aconteceu: Num treino pela equipe de Ribeirão Preto, o zagueiro de 21 anos reclamou de tontura, caiu e teve uma convulsão. Acredita-se que um aneurisma (dilatação de uma artéria ou veia) tenha gerado uma parada cardíaca

Quem morreu: Miklos Fehér, do Benfica (Portugal), em janeiro de 2004
O que aconteceu: O atacante húngaro de 24 anos entrou no segundo tempo do jogo Benfica 1 x 0 Vitória. Após receber um cartão amarelo, caiu. Os médicos têm duas hipóteses: má-formação cardíaca ou problemas pulmonares

Quem morreu: Daniel Uribe, do Alfonso Ugarte (Peru), em março de 2004O que aconteceu: Na partida do seu time contra o Alianza Quetepampa, o goleiro de 17 anos aquecia perto do gol quando desmaiou. Médicos fizeram os primeiros socorros, levaram Daniel para o hospital, mas não adiantou. Foi diagnosticado um infarto

AIDS

COMO SURGIU A AIDS?

Ela surgiu a partir de um vírus chamado SIV, encontrado no sistema imunológico dos chimpanzés e do macaco-verde africano. Apesar de não deixar esses animais doentes, o SIV é um vírus altamente mutante, que teria dado origem ao HIV, o vírus da aids. O SIV presente no macaco-verde teria criado o HIV2, uma versão menos agressiva, que demora mais tempo para provocar a aids. Já os chimpanzés deram origem ao HIV1, a forma mais mortal do vírus. "É provável que a transmissão para o ser humano, tanto do HIV1 como do HIV2, aconteceu em tribos da África central que caçavam ou domesticavam chimpanzés e macacos-verdes", diz o infectologista Jacyr Pasternak, do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Não há consenso sobre a data das primeiras transmissões. O mais provável, porém, é que tenham acontecido por volta de 1930. Nas décadas seguintes, a doença teria permanecido restrita a pequenos grupos e tribos da África central, na região ao sul do deserto do Saara. Nas décadas de 60 e 70, durante as guerras de independência, a entrada de mercenários no continente começou a espalhar a aids pelo mundo. Haitianos levados para trabalhar no antigo Congo Belga (hoje República Democrática do Congo) também ajudaram a levar a doença para outros países. "Entre 1960 e 1980 surgiram diversos casos de doenças que ninguém sabia explicar, com os pacientes geralmente apresentando sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer, e pneumonia", diz a epidemiologista Cássia Buchalla, da Universidade de São Paulo (USP). A aids só foi finalmente identificada em 1981. Hoje, calcula-se que existam mais de 40 milhões de pessoas infectadas no mundo.
Décadas de mistério

1930
Um dos principais estudos sobre a aids aponta que nesse ano ocorreu a primeira transmissão dos macacos para o ser humano. Mas não existe consenso entre os cientistas. Alguns até acreditam que o primeiro contato do homem com o vírus aconteceu séculos antes

1957
Há alguns anos, uma teoria popular dizia que a transmissão do HIV para os humanos só teria ocorrido em 1957. Uma vacina contra a pólio estaria contaminada com restos orgânicos de macacos portadores do vírus. Testes recentes, porém, derrubaram essa teoria

1959
O primeiro caso comprovado de morte provocada pela aids é de um homem que morava em Kinshasa, no antigo Congo Belga (hoje Congo). Isso, porém, só foi descoberto décadas depois, com um teste feito no sangue dele, que estava guardado congelado

1981
A aids é reconhecida como doença. Surgem vários relatos de sintomas em homossexuais nos Estados Unidos. Também em 1981 morre o chamado "paciente zero" naquele país: um comissário de bordo que espalhou a doença em suas viagens

1983Pesquisadores isolam o vírus da aids pela primeira vez. Dois anos depois, aparece o teste que identifica a presença de anticorpos no sangue. O nome HIV, porém, só surge em 1986. A primeira droga para ajudar no tratamento da doença, o AZT, só é criada em 1987

CORES


AS CORES FALAM

Uma das mais antigas tradições humanas é usar as cores como linguagem. Isso, porém, não significa que elas sejam sempre um código universal, como ocorre nos semáforos. No Ocidente, por exemplo, a cor do luto é o preto ou o roxo, enquanto em muitos países do Oriente esse papel cabe ao branco. Para nós, essa cor é inseparável dos vestidos das noivas - que, na Índia, preferem o vermelho e, na Noruega, se casam de verde! Por aí se vê que devemos tomar cuidado para não traduzir literalmente "expressões coloridas" de uma língua para outra. As mais usadas em português são as seguintes.

VERDE
A cor da esperança é a mesma da natureza e da ecologia e também representa a juventude. Em alguns casos, porém, pode sinalizar algo demoníaco ("o monstro verde do ciúme", de Shakespeare) ou estranho: extraterrestres e duendes, por exemplo, costumam ser verdes no imaginário popular.

Verdes anos - A adolescência.
Fruta verde - Toda fruta que não está madura, independentemente de sua verdadeira cor.
Inferno verde - Apelido dado à Amazônia pelos europeus.
Verde de inveja - É a expressão mais comum, embora alguns fiquem roxos com esse sentimento.
Verdinhas - As notas de dólar, que têm a mesma cor para todos os valores.
Pano verde - Designa as mesas de jogos de azar.

AMARELO
É a cor, por excelência, de tudo que precisa ser chamativo, das bolas de tênis e botes salva-vidas às capas de chuva de quem trabalha na estrada. Associada à luz e ao Sol, ao fogo e à energia, também pode se referir à palidez do medo e da doença (a chamada "amarelão", por exemplo).

Sorriso amarelo - Sorriso forçado, contrafeito.
Amarelar - Acovardar-se (em inglês, yellow significa "covarde").

AZUL
A cor do céu simboliza o infinito, a paz e a tranqüilidade - por isso, pode ser vista nos emblemas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comunidade Européia. Também é a cor do mar e, talvez por isso, está muito ligada à água, como se vê nas embalagens de água mineral.

Sangue azul - Sinônimo da nobreza.
Bilhete azul - Demissão.
Tudo azul - Tudo bem.
Mosca azul - A tentação do poder e da glória. Quem se deixa seduzir pela ambição foi mordido pela mosca azul.

NEGRO
No Ocidente, sempre foi a cor da noite, da morte e da tristeza. Por esse caráter grave e austero, ficou associada à autoridade: basta ver as vestes dos padres e dos magistrados (até pouco tempo atrás, o juiz de futebol também vestia sempre preto). Na sociedade moderna, adquiriu um aspecto de elegância: o traje a rigor é chamado de black-tie (literalmente, "gravata preta"), enquanto as mulheres portam o seu "pretinho básico", vestido adequado para as mais variadas ocasiões sociais.

Magia negra - Ao contrário da branca, quer prejudicar alguém.
Lista negra - Relação de nomes de pessoas vetadas ou boicotadas.
Ovelha negra - Aquele que, por seu comportamento reprovável, destoa da família ou do grupo.
Mercado negro - Comércio clandestino, normalmente de produtos proibidos. Pela mesma simbologia, o mercado paralelo de moeda estrangeira era chamado de câmbio negro.

BRANCO
Nossa cultura associa a cor à pureza e à inocência, tanto no vestido de noiva quanto na roupa do bebê que vai ser batizado. Os mesmos conceitos se estendem à saúde e à limpeza (das ambulâncias e hospitais à própria roupa dos médicos). Além disso, o branco simboliza clareza e sabedoria (dos cabelos brancos aos guarda-pós dos cientistas) e designa aquilo que não tem marcas (livro em branco, cheque em branco, voto em branco).

Bandeira branca - Paz, trégua.
Armas brancas - Facas, espadas e lâminas de toda espécie.
Carta branca - Autorização para agir com liberdade de escolha.
Magia branca - Voltada apenas para o bem.
Greve branca - Os empregados continuam trabalhando.
Versos brancos - Não têm rima.

VERMELHO
A cor do sangue é um tradicional símbolo da paixão, mas também representava antigamente os reis e imperadores. Além disso, está associada ao perigo (do "alerta vermelho" às bandeiras colocadas nas praias), ao fogo (nos caminhões de bombeiros, hidrantes e extintores de incêndio), aos partidos de esquerda e ao que precisa ser destacado na escrita (as correções feitas pelo professor, os lançamentos negativos na contabilidade).

Tapete vermelho - Estender um desses para alguém significa recebê-lo com todas as pompas e honras.
Planeta vermelho - Marte.
Telefone vermelho - Ligação direta entre duas autoridades.
Estar no vermelho - Ter saldo devedor.

OUTRAS CORES
No português, sua contribuição para a linguagem figurativa é pequena.

Ver a vida cor-de-rosa -Enxergar a realidade com otimismo ingênuo e exagerado.
Massa cinzenta - Sinônimo de cérebro e, portanto, de inteligência.
Ficar roxo - Diz-se de quem passa vergonha, fome ou frio extremos.
Aquilo roxo - Sinal de coragem, virilidade, masculinidade.
Imprensa marrom -Publicações que exploram o sensacionalismo.Sem cor - Sem graça e sem entusiasmo.

OLHOS


É VERDADE QUE OS OLHOS MAIS CLAROS SÃO MAIS SENSÍVEIS À LUZ?

Não, a pigmentação que dá cor à íris dos olhos não tem nenhuma relação com a sensibilidade à luz. Quem responde por isso são as chamadas células fotossensíveis - os cones (em lugares mais iluminados) e os bastonetes (em locais com pouca claridade) - que se encontram na retina, no interior do olho. A fotofobia, incômodo provocado pela luz, só ocorre em casos específicos. "Um deles seria a distrofia dos cones, uma doença hereditária. Como essas células que captam maior luminosidade não funcionam, a luz se torna agressiva. Outro caso é o de pessoas que têm astigmatismo mas não o corrigem, ou seja: não usam óculos. No esforço de tentar enxergar, as imagens ficam desfocadas e a luz também passa a perturbar", afirma o oftalmologista Márcio Nehemy, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A fotofobia também se manifesta como sintoma da ceratoconjuntivite, palavrão que dá nome à inflamação da córnea e da conjuntiva (membrana que envolve a parte branca dos olhos). Normalmente, a luz atravessa a córnea como se ela fosse um vidro. Com a inflamação, porém, os raios são desviados, causando reflexos que incomodam a pessoa. "Além disso, existe na retina uma pigmentação que se agrega aos receptores de luz, para transformar o estímulo luminoso em impulsos nervosos (que serão enviados ao cérebro para processar a imagem). Todos possuimos essa pigmentação, com exceção dos albinos, que não têm nem o pigmento da íris (que apenas dá a cor dos olhos, sem influir na visão), nem esse pigmento específico da retina, tão importante no processamento cerebral da luz. É por esse motivo que os olhos dos albinos são extremamente sensíveis a ela", diz Márcio.

NAZISTA

POR QUE OS NAZISTAS QUERIAM EXTERMINAR OS JUDEUS?

Essa questão ainda divide os historiadores. Há aqueles para quem exterminar os judeus sempre fez parte dos planos de Hitler. Outros acreditam que essa política foi endurecendo aos poucos, até chegar ao terrível assassinato em massa. Mas não há dúvida de que a semente do anti-semitismo germinou bem antes de os nazistas chegarem ao poder na Alemanha (na década de 30). No final do século XIX, já havia, na Europa, uma boa dose de preconceito. Preconceito por motivos econômicos - os judeus eram vistos como manipuladores das finanças no mundo - e religiosos - eram acusados de terem entregue Jesus Cristo aos romanos. Na Alemanha, em particular, o anti-semitismo ganhou mais força por causa de teorias biológicas racistas. Os judeus eram classificados como uma "raça deformada", uma ameaça à "raça ariana" - descendentes dos árias, uma das etnias que formaram as populações européias. Nessa visão preconceituosa, não eram só os judeus que deveriam ser perseguidos, mas outros supostos obstáculos à "pureza racial", como os ciganos, os deficientes físicos e os homossexuais, também assassinados em grande número nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

ASPIRINA

É VERDADE QUE ASPIRINA FAZ BEM AO CORAÇÃO?

Ela não atua diretamente no coração, mas pode, sim, beneficiá-lo se for corretamente ministrada. A aspirina é feita de um ácido chamado acetilsalicílico, que impede a aglutinação de certas partículas do sangue, as plaquetas. "Essa ação antiplaquetária, como é chamada, faz com que o sangue fique mais fino e, portanto, flua mais facilmente pelos vasos sangüíneos. A aglutinação das plaquetas facilita a formação de coágulos, que podem entupir as artérias e, assim, provocar, ataques cardíacos", afirma o cardiologista Marcos Knobel, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Pessoas que já tiveram infarto ou têm ponte-de-safena costumam ser tratadas com aspirina. "É um medicamento barato e eficiente no combate à coagulação do sangue. Em doses altas, porém, pode provocar úlceras, porque afeta também substâncias que protegem a mucosa do estômago. Por isso, só se deve tomar aspirina para fins cardiológicos sob orientação de um médico", diz Marcos. Hoje em dia existem antiplaquetários mais modernos, desenvolvidos apenas para esses fins, quando o paciente apresenta rejeição ou alergia à aspirina.

DOCE

POR QUE COMEMOS SALGADOS ANTES DOS DOCES, NAS REFEIÇÕES?

Porque é mais saudável. Os doces contêm glicose, substância reguladora da fome. Quando eles são ingeridos, ela chega rapidamente à corrente sangüínea, de onde envia para o cérebro mensagens de que o organismo já está satisfeito. "Isso faz a pessoa perder a fome mesmo não estando devidamente nutrida", afirma a nutricionista Rosemary Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já os alimentos salgados contêm todos os nutrientes de que o corpo precisa. "O consumo de doces está, na verdade, mais para o prazer do que para a nutrição propriamente dita. É muito mais um hábito cultural do que uma regra lógica. Talvez, pela experiência, as pessoas tenham percebido que os nutrientes estão nos salgados e não nos doces. Sendo assim, faz sentido o hábito tradicional da mãe que dá a sobremesa como recompensa pelo filho ter se alimentado direito", diz Rosemary.

AIDS

POR QUE NÃO É POSSÍVEL CONTRAIR AIDS POR MEIO DE UM MOSQUITO QUE TENHA PICADO UMA PESSOA INFECTADA?

O vírus HIV se mantém no sangue em uma concentração mínima - ao contrário de doenças como a dengue, que apresentam a chamada fase virêmica (quadro clínico com alta concentração de vírus no sangue). Por isso, a quantidade que o mosquito suga de uma pessoa seria pequena demais para contaminar outra. Além disso, ao picarem, os insetos sugam o sangue para si e não o contrário. Assim, nunca injetam numa nova vítima o sangue de alguém picado anteriormente. Outro fator importante é que o vírus HIV não consegue se reproduzir dentro dos insetos, como fazem certos protozoários. "No caso da dengue ou da febre amarela, o vírus contamina também as células do mosquito, fazendo com que seu organismo carregue a doença. Ao sugar o sangue, ele injeta saliva, que também está contaminada. Isso não ocorre com o HIV", afirma o biólogo Delsio Natal, da USP. Restaria uma última possibilidade de contaminação, pela presença de sangue na probóscide (aparelho bucal do inseto). "Mas não se considera tal hipótese porque essa quantidade de sangue seria microscópica e o vírus morreria rapidamente em contato com o ar", diz Delsio.

SORVETE

COMO SURGIU O SORVETE?

Foi na China de 4 000 anos atrás, quando uma sobremesa à base de leite e arroz foi congelada na neve. Rapidamente a delícia ganhou prestígio, mas apenas entre a nobreza, que podia dispor de leite (então uma mercadoria cara) e tinha como conservar a neve até o verão, valendo-se de câmaras frigoríficas subterrâneas. Em sua viagem à China, em 1271, o veneziano Marco Polo teria encontrado grande variedade de cremes congelados de frutas. As receitas vieram em sua bagagem, mas não saíram da Itália até meados do século XVI, quando um certo Buontalenti, cozinheiro de Catarina de Médici (1519-1589), introduziu a requintada sobremesa na corte francesa. Em 1670, o siciliano Francisco Procópio abriu em Paris um café que vendia sorvetes - a primeira sorveteria da história. O sucesso foi tão grande que, seis anos depois, havia mais de 250 fabricantes de sorvete na capital francesa. "Além de ser gostoso, é um alimento quase completo: contém proteínas, lipídios, cálcio, minerais, fósforo e outros componentes fundamentais. Faltam apenas as fibras", diz a nutricionista Ana Célia Amaral Ayres Dellosso, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

LEITE

POR QUE O LEITE SOBE QUANDO FERVE?

Para começo de conversa, é preciso entender uma característica básica do leite. Ele não é apenas um líquido, como a água, e sim uma composição orgânica que também contém sais minerais, gordura, proteínas e açúcar (a famigerada lactose, que o organismo de muitos adultos não tolera). Ao serem aquecidas, a gordura e as proteínas tendem a subir para a superfície do leite, formando uma película. Isso ocorre antes de a água presente no leite ferver. Quando isso acontece, a água começa a borbulhar e as bolhas de vapor empurram a tal película para fora e o leite passa a espumar. Todo mundo sabe que, se apagar o fogo, o processo é paralisado instantaneamente. "Isso acontece porque as proteínas voltam a dissolver-se na água do leite quando ele esfria", diz Paulo César Queiroga, gerente industrial de uma fábrica de laticínios. O que sobra na superfície é a popular nata: a gordura do leite.
Fervura incontida
1 - Quando o leite é aquecido, a gordura e as proteínas sobem para a superfície, formando uma película
2 - Quando a água contida no leite começa a ferver, as bolhas de vapor empurram a película para fora, formando a espuma que transborda

MUSEU


POR QUE NOS MUSEUS É PROIBIDO FOTOGRAFAR COM FLASH?

Isso quando eles permitem fotografar alguma coisa, não é? O que acontece é que essa luz disparada pelas câmeras é tão intensa que acaba adulterando a própria cor das pinturas. Além de todas as cores perceptíveis pelo olho humano e dos raios infravermelhos, a luz branca dos flashes contém os invisíveis e poderosos raios ultravioleta. Os fótons (partículas de luz) que os compõem carregam uma quantidade de energia muito maior que a dos outros raios - a ponto de reagirem com os elétrons das tintas do quadro. Essa reação romperia algumas das ligações químicas entre as moléculas que formam o pigmento - o que, por sua vez, modificaria de maneira imprevisível as cores da pintura. Qualquer luz branca - como a do Sol ou a das lâmpadas fluorescentes - é capaz disso, só que essa capacidade de interferir na pigmentação aumenta conforme a intensidade da luz. A dos flashes é tão forte que tem que ser proibida em nome da preservação de patrimônios artísticos valiosíssimos. Sem ela, as fotos que os visitantes levam para casa podem não ficar lá essas coisas, mas os Van Goghs e os Picassos agradecem.

OSCAR

POR QUE O PRÊMIO OSCAR TEM ESSE NOME?

Existem três versões de como - após ter sido criado em 1929 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood - a honraria ganhou esse apelido no começo da década de 30. Segundo a mais popular delas, a fonte teria sido um comentário espontâneo de uma secretária executiva da Academia, chamada Margaret Herrick, que, ao ver a estatueta, teria exclamado: "Parece meu tio Oscar!" Um porém: os historiadores que tentaram checar a veracidade dessa lenda descobriram que Herrick não tinha um tio e, sim, um primo com esse nome. Outros atribuem o batismo ao colunista Sidney Skolsky, o primeiro a usar o termo na imprensa, em 1934. Como se não bastasse, a atriz Bette Davis reivindicou para si a autoria do cognome, ao dizer que, visto de trás, o troféu lembrava seu marido, o trompetista Harmon Oscar Nelson. A Academia só passou a usar oficialmente o apelido a partir de 1939.

ALIANÇA

POR QUE SE USA A ALIANÇA DE CASAMENTO NA MÃO ESQUERDA E A DE NOIVADO NA MÃO DIREITA?

Os egípcios, por volta de 2800 a.C., já usavam um anel para simbolizar o laço matrimonial. Para eles, um círculo, não tendo começo nem fim, representava a eternidade à qual a união se destinava. Cerca de 2 000 anos depois, os gregos descobriram o magnetismo, que acabou influindo também nessa simbologia. Como eles acreditavam que o terceiro dedo da mão esquerda possuía uma veia que levava diretamente ao coração, passaram a usar nele um anel de ferro imantado, para que os corações dos amantes permanecessem para sempre atraídos um pelo outro. O costume foi adotado pelos romanos e o Vaticano manteve a tradição. Já o anel de noivado foi introduzido no ano 860, por decreto do papa Nicolau I (858-867), que o instituiu como uma afirmação pública obrigatória da intenção dos noivos. "A aliança passa da mão direita para a mão esquerda para representar a aproximação do compromisso definitivo. Do lado esquerdo, ela fica mais próxima do coração", afirma o padre Eduardo Coelho, da arquidiocese de São Paulo.

PÃO

POR QUE O PÃO VELHO FICA DURO E A BOLACHA, MOLE?


A massa do pão é composta basicamente de farinha de trigo - além de água, fermento e sal. A farinha, por sua vez, apresenta dois componentes principais: as proteínas e o amido. Acontece que, antes do cozimento da massa, as moléculas do amido encontram-se organizadas em estruturas granulares, nas quais a água não penetra. Com o aquecimento, porém, essa estrutura se rompe e as moléculas de amido se combinam com a água liberada pelas proteínas coaguladas pelo calor, formando uma espécie de gel. Assim que o pão começa a esfriar, as moléculas de amido se reorganizam, liberando água e formando uma estrutura rígida, que provoca o endurecimento do pão. Isso não acontece com a bolacha por três motivos. Primeiro, a quantidade de farinha que entra em sua composição é bem menor. Além disso, a gordura da massa do biscoito se liga com as moléculas de amido, evitando que elas se reorganizem e endureçam. A bolacha também fica mole porque sua massa é muito seca e, em contato com o ar, acaba absorvendo a umidade.

PIERCING


ONDE É PERIGOSO E ONDE É SEGURO COLOCAR UM PIERCING?

O risco mora nas partes do corpo mais atacadas por bactérias. Elas adoram lugares escuros, quentes e úmidos. Regiões como o nariz e, mais ainda, a vagina são uma suíte presidencial para elas, pois as danadas se reproduzem freneticamente nesses lugares. Se o piercing e as ferramentas usadas para colocá-lo não estiverem esterilizados, é infecção na certa. Já em partes do corpo mais arejadas, como a orelha, o perigo é menor. Outro fator que precisa ser levado em conta é o tempo que cada região leva para cicatrizar. Enquanto as feridas causadas pela aplicação do adorno não fecharem totalmente, o organismo fica de portas abertas para as bactérias. A glande do pênis, por exemplo, pode demorar até um ano para se livrar de vez das feridas - contra algumas semanas da língua. O cuidado com a higiene, claro, precisa ser redobrado até que a "porta" feche de vez. O ideal é usar sabonetes com bactericida, mais eficientes contra microorganismos. Outra forma de prevenção é escolher direito o material de que o piercing é feito. "O níquel, metal mais usado, tem grandes chances de provocar dermatite: aparecem bolinhas vermelhas e bolhas na pele do paciente, além de coceira. Já os piercings de ouro branco, por exemplo, têm menos possibilidade de causar isso", diz a dermatologista Ida Gomes Duarte, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
Não entre numa furada

Orelha
No lóbulo (parte mais mole da orelha) os riscos são os mesmos de colocar um brinco. Na região mais dura, o cuidado deve ser maior: uma infecção pode causar necrose - morte do tecido. A cicatrização demora até seis meses

Sobrancelha
O local é arejado e fácil de limpar, o que diminui os riscos de infecção. Mas a área é rica em veias e artérias, o que exige técnica mais apurada do aplicador na hora de colocar o piercing. O tempo de cicatrização é de dois a quatro meses

Mamilo
Para os homens, o mamilo é uma das áreas mais seguras. Já com as mulheres é diferente: o piercing pode causar infecção nos dutos das glândulas mamárias - por onde sai o leite durante a amamentação. A cicatrização leva dois meses

Nariz
A parte interna do nariz, úmida, é propícia ao desenvolvimento de bactérias. Além disso, ela fica exposta à sujeira suspensa no ar, o que aumenta os riscos de infecção. O tempo de cicatrização varia entre dois e quatro meses

Língua
Área cheia de vasos sanguíneos, a língua pode ter sérias hemorragias na hora de colocar a peça. A saliva, porém, ajuda a proteger a área contra microorganismos nocivos. A cicatrização leva de duas a quatro semanas

Vagina

Essa parte do corpo conserva muitas bactérias, por isso o cuidado ao implantar um piercing deve ser extremo. Uma peça mal colocada pode interferir na sensibilidade, diminuindo o prazer. No lábio interior, a cicatrização demora até seis semanas

REMÉDIOS


VICIADOS EM REMÉDIOS

Um dia, sem querer, você abre uma das gavetas do seu filho adolescente e encontra um cigarro de maconha. A sensação é de decepção, medo, angústia, seguida da terrível constatação: "Meu filho é um drogado". Enquanto torce mentalmente para que ele não esteja viciado, você, sem perceber, se vê abrindo a gaveta de remédios para retirar o calmante que usa nos momentos de tensão, antevendo a inevitável e difícil conversa que precisará travar quando ele chegar. É nessa gaveta de medicamentos que você encontra o alívio para o corpo e a alma. São analgésicos para a dor, ansiolíticos para relaxar, antiinflamatórios e até mesmo comprimidos de anfetamina usados para conter o apetite que tantas vezes você não consegue controlar naturalmente. Em meio ao nervosismo, você não se dá conta de que alguns desses remédios ingeridos diariamente podem causar mais danos e dependência que as substâncias que você conhece como "drogas ilícitas".
Esteja certo: se um químico fizesse uma análise fria das substâncias encontradas na sua gaveta e na do seu filho, o garoto não seria o único a precisar de uma conversa séria sobre o perigo de se amparar em muletas psicoativas.
"Do ponto de vista científico, não há diferença entre um dependente de cocaína e um viciado em remédios que contêm anfetamina", diz o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes ( Proad), da Universidade Federal de São Paulo. "Droga é droga, não importa se ela foi comprada num morro ou numa farmácia dentro de um shopping." Se é assim, como explicar a extrema intolerância social diante das drogas ilícitas acompanhada de uma permissividade leviana diante de drogas prescritas pelos médicos (que coloca o Brasil no quinto lugar em consumo de medicamentos)? Afinal, precisamos mesmo de tantos remédios?
Segundo a maioria dos especialistas, a resposta é não. Apesar dos problemas de saúde da maioria dos brasileiros pobres, que mal conseguem ter acesso a alimentos básicos, e das doenças comuns entre a classe média e os ricos, o uso abusivo e irregular de medicamentos cresce numa velocidade preocupante. O número de farmácias per capita no país é um bom indicador do problema. Há uma drogaria para cada 3 mil habitantes, mais que o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Ou seja: há mais pontos-de-venda de remédios no Brasil do que de pão - são 54 mil farmácias contra 50 mil padarias. Drogas químicas podem ser compradas por telefone e pela internet, com ou sem receita médica. Balconistas diagnosticam doenças e "tratam" pessoas com remédios da moda, dos analgésicos às pílulas contra impotência.
O resultado é alarmante: segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), o Brasil teve 22 121 casos de intoxicação, no ano de 2000, provocados pelo uso indevido de remédios, quase um terço de todos os casos registrados. "E isso é só a ponta do iceberg", diz Rosany Bochner, coordenadora da instituição. "Como não recebemos informações de todos os estados e nem sempre os médicos assumem os erros de prescrição, esse número deve ser pelo menos quatro vezes maior." Se ela estiver certa, o número de casos no Brasil passaria dos 100 mil. Nos Estados Unidos, onde a situação é bem mais grave, 1 milhão de pessoas são intoxicadas por medicamentos todos os anos. Com dados tão alarmantes, você deve estar se perguntando por que a população de lá não pressiona o seu governo a usar parte da fortuna usada no combate às drogas ilegais (no ano de 2000, foram 39 bilhões de dólares) em campanhas de prevenção de intoxicação por medicamentos. Boa pergunta.
"É que a gravidade desses dados termina sendo mascarada nas estatísticas", diz a coordenadora do Sinitox. Ela explica que as pesquisas norte-americanas, por exemplo, classificam os casos de intoxicação por tipo de medicamento, separando analgésicos de antidepressivos e assim por diante. "Somados, os medicamentos também são a maior causa de intoxicação por lá", diz Rosany. "Mas, devido a essa classificação, são os produtos de limpeza que aparecem como vilões em primeiro lugar, já que estão agrupados numa única categoria."
Enquanto prevalece uma estranha cortina de silêncio sobre o problema, milhares de pessoas que ingerem medicamentos correm, sem saber, risco de se tornarem dependentes. Um problema que conta com a irresponsabilidade de alguns médicos e os interesses bilionários de uma das mais poderosas forças econômicas mundiais: a indústria farmacêutica.

Overdose de lucros
É inegável que as marcas da indústria farmacêutica estão longe da popularidade de nomes como Microsoft ou McDonald’s. Mas não se engane com essa aparente falta de glamour. Afinal, laboratórios farmacêuticos são o negócio mais lucrativo do planeta, perdendo apenas para as companhias de petróleo. Segundo uma estimativa da revista inglesa Focus, o setor teria faturado, no ano passado, 406 bilhões de dólares. A contradição é que enquanto os laboratórios estão cada vez mais saudáveis do ponto de vista financeiro, a imensa maioria dos habitantes do mundo permanece doente. Por que isso acontece? A resposta é simples: apenas 1% dessa montanha de dinheiro veio da África, onde a maioria dos seus 800 milhões de habitantes padece de doenças endêmicas e não tem recursos para comprar medicamentos. Sem consumidores com bom poder aquisitivo, os laboratórios não se interessam em fabricar remédios baratos ou voltados para as doenças de países pobres.
"Para essas multinacionais, é mais lucrativo criar medicamentos para doenças crônicas como o diabete ou problemas cardíacos, uma vez que o paciente vai precisar continuar consumindo o remédio até o fim da vida", diz a química Eloan Pinheiro, diretora do laboratório Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, que produz medicamentos que estão ajudando o governo brasileiro a ser auto-suficiente - e um modelo para o mundo - no combate à Aids. Não é à toa que 66% das vendas dos laboratórios emergiram dos países da América do Norte e da Europa, cuja população de 730 milhões de pessoas ostenta a renda mais alta do mundo e gasta fortunas com medicamentos de última geração. Estima-se que, no mesmo período, a indústria farmacêutica brasileira faturou cerca de 7,5 bilhões de dólares, cifra que pode parecer nanica diante dos 170 bilhões de dólares das vendas nos Estados Unidos, mas que é bastante significativa na estatística mundial do setor (veja o gráfico na página 46).
São mais de 32 mil rótulos no país, com variações de 12 mil substâncias - um exagero, considerando a lista de medicamentos essenciais para o bem-estar, da Organização Mundial de Saúde (OMS), de apenas 300 itens, ou mesmo as 6 mil drogas disponíveis nas farmácias britânicas. Os brasileiros adoram tomar analgésicos e antiinflamatórios e estão entre os campeões de consumo de ansiolíticos, os conhecidos tranqüilizantes, adquiridos indiscriminadamente para acabar com insônia, inquietação ou o simples mau humor de um dia aziago. A dependência de sedativos é um hábito que os jovens aprendem rápido com os pais. Nesse particular, contudo, as mulheres são imbatíveis: são elas que respondem por 75% do consumo de tranqüilizantes no país, talvez pelo fato de, segundo um estudo da Escola Paulista de Medicina na década passada, apresentarem o dobro dos casos de nervosismo e outros distúrbios psicológicos dos homens.

Conflito de Interesses
A força dessa indústria é tão grande, que pesquisadores e entidades médicas como a Associação Americana de Medicina estão questionando a própria idoneidade da informação produzida por universidades e centros de pesquisa patrocinados por laboratórios. Afinal, no ano 2000, a indústria farmacêutica financiou 70% dos testes de drogas clínicas realizados por instituições de pesquisa "independentes" dos Estados Unidos, o que custou aos cofres dos laboratórios 60 bilhões de dólares. Há quem afirme que o preço pago pelos centros de pesquisa por esse tipo de parceria pode ter sido alto demais. "Os patrocinadores decidem quem vai trabalhar no estudo e excluem quem tem pontos de vista conflitantes com os seus interesses", afirma Steven Cummings, diretor do programa de pesquisa clínica da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
São comuns também a imposição de cláusulas de confidencialidade que impedem a divulgação de resultados e o intercâmbio de dados entre cientistas, duas restrições quase fatais para a produção de conhecimento científico. "A ciência depende de um fluxo aberto e livre de informação", diz o pesquisador Steven Rosenberg, do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos. "No entanto, quanto mais a pesquisa é sustentada por companhias privadas, mais a ética dos negócios atropela a ética da ciência."
Os conflitos de interesses entre cientistas e a indústria farmacêutica vêm sendo objeto de estudos importantes nos últimos quatro anos. Um dos mais rumorosos aconteceu no Canadá, onde a hematologista Nancy Olivieri, da Universidade de Toronto, conduziu uma pesquisa sobre uma droga desenvolvida pelo laboratório Apotex para tratamento da talassemia, um tipo de anemia que ocorre principalmente entre populações que vivem em áreas próximas do mar Mediterrâneo. Ela constatou que o remédio expunha os pacientes a danos no fígado e no coração, mas foi impedida de compartilhar os dados com outros colegas e de advertir o público sobre os riscos da droga porque a Apotex evocou a cláusula de confidencialidade do contrato. Como a comunidade dos pesquisadores ficou ao lado da hematologista, a Universidade de Toronto acabou alterando sua política de parceria com os laboratórios - ainda assim, a Apotex manteve o sigilo das informações sobre os efeitos colaterais do seu produto.
Em Winston-Salem, na Carolina do Norte, Estados Unidos, uma equipe de cinco pesquisadores da Universidade Wake Forest, chefiada por Curt Furberg, passou cinco anos pesquisando e produzindo relatórios comparativos entre um novo bloqueador de cálcio do laboratório Sandoz, atual Novartis, e um diurético. Mas o patrocinador recusou a conclusão quando a equipe constatou que o novo remédio, destinado a regular a pressão sanguínea e reduzir a calcificação de artérias, era menos eficaz que o diurético. A equipe foi convidada a refazer seu relatório sucessivamente até que, quando chegaram à mesma conclusão pela décima vez, os próprios cientistas desistiram da pesquisa. "Não conseguimos nenhum resultado, mas é preciso ter princípios", afirma Furberg.
Outro caso famoso envolveu o laboratório Knoll Pharmaceutical e a pesquisadora Betty Dong, da Universidade da Califórnia. Betty publicara um levantamento parcial que sugeria que o remédio Synthroid, contra distúrbios da glândula tireóide, era mais eficaz que os seus concorrentes. Foi então contratada pelo Knoll, por 250 mil dólares, para realizar um estudo mais profundo que, no entanto, revelou que o Synthroid não tinha nada de especial. Resultado: Betty foi impedida de divulgar os seus dados, apesar de outros pesquisadores terem chegado à mesma conclusão.
O que diz de tudo isso a indústria farmacêutica? "Quando realiza uma pesquisa, a indústria investe alto e não é justo que a divulgação dos dados beneficie os concorrentes", diz o biólogo Ciro Mortella, presidente da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma). "Os laboratórios são empresas que precisam apresentar resultados a seus acionistas. Não somos monges, mas somos éticos."
Pelo menos nas últimas duas décadas, os acionistas da indústria farmacêutica não têm motivos para queixas, em parte graças ao retorno da pesquisa permanente de novos medicamentos, algo que consome 21% do faturamento do setor, mas que gera resultados bastante compensadores. Somente em pesquisas cada novo remédio custa entre 300 e 500 milhões de dólares. Mas os lucros quase sempre superam em muito o investimento. O Viagra está aí para provar. Uma das minas de ouro da Pfizer, o remédio rendeu 1,3 bilhão de dólares apenas em 2001. No mesmo período, os novos ansiolíticos e drogas para doenças cardiovasculares faturaram 90 bilhões de dólares.
O irônico é que muitas das oportunidades de lucro no setor surgem dos efeitos adversos dos próprios medicamentos que já estão em uso. Ou seja: a complicação provocada por um remédio pode ser a chave para uma nova droga, destinada a outra doença. No final, a marca será direcionada para o efeito farmacológico mais lucrativo. Um exemplo é o Proscar, do laboratório Merck. Quando foi lançado, há cerca de dez anos, era apenas um supressor hormonal indicado para doenças da próstata. Com o tempo, percebeu-se que um dos efeitos indesejáveis da droga era o crescimento do cabelo, o que levou o laboratório a relançá-lo como remédio para calvície. Fenômeno similar aconteceu com o Wellbutrin, antidepressivo produzido nos anos 80 pela Glaxo, à base de cloridrato de bupropiona. Como muitos usuários da droga perdiam a vontade de fumar, a Glaxo registrou de novo o produto, sob a marca Zyban, agora indicado para quem tenta se livrar do tabagismo.
No ano passado, a indústria farmacêutica colocou no mercado global 69 super-remédios. Frutos do desenvolvimento da biotecnologia, o lançamento de drogas de última geração foi 17 vezes maior do que há dez anos, quando apenas quatro super-remédios foram produzidos. A febre de lançamentos amplia o número de títulos nas prateleiras das farmácias a cada ano em escala geométrica, apesar de especialistas do Centro Cochrane, organização que procura mapear e avaliar o conhecimento médico em 15 países, advertirem recentemente ao público que, quando o assunto são medicamentos, nem sempre o novo e o mais caro é o melhor.
É claro que as propagandas desses novos remédios lutam para provar o contrário. No início dessa década, por exemplo, o antialérgico Claritin chegou a gastar mais com propaganda do que a Coca-Cola. Ao tratarem medicamentos como um produto qualquer (prometendo às vezes efeitos irreais), os anúncios conseguiram aumentar as vendas dessas drogas em 21% em apenas um ano - segundo a consultoria americana Scott-Levin.
Junto às farmácias, o cerco da propaganda é ainda maior, com a distribuição de prêmios aos donos e balconistas que atingirem metas de vendas através da conhecida "empurroterapia", a sugestão feita ao cliente que aparece na farmácia sem receita e que quer se livrar a qualquer preço de algum mal-estar. Resultado: apenas um terço das 400 milhões de caixas de remédio vendidas por ano no Brasil veio de prescrições médicas. "Em outros países, como nos Estados Unidos, há um controle mais rígido na farmácia entre os chamados remédios leves e os que requerem receita médica", diz Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox. "Mas esse controle não é suficiente, uma vez que essas drogas leves não são tão leves, principalmente quando não se limita a quantidade da compra."

Cerco Médico
Talvez não seja tão difícil entender os motivos que levam balconistas desinformados a incentivar a compra desnecessária de alguns remédios. Mas e os médicos? Será que eles são imunes a esse tipo de abordagem? Tudo indica que não. Afinal, é difícil acreditar que os laboratórios dos Estados Unidos cheguem a gastar à toa cerca de 14 bilhões de dólares para convencê-los a prescrever seus remédios. Há um vendedor para cada 11 médicos americanos, representantes que trabalham com uma munição que inclui amostras grátis e brindes como canetas e relógios - tudo para que suas marcas sejam lembradas na hora da receita. Nada de mais, se os incentivos parassem por aí. O problema é que os laboratórios estão cada vez mais "generosos" e não é raro que esses mimos cheguem a incluir jantares em restaurantes de luxo, viagens internacionais e participação em congressos, com tudo pago.
Esse tipo de cerco aos médicos tornou-se tão incômodo que algumas clínicas, como a Everett, de Washington, decidiram não mais receber esses representantes dos laboratórios, a fim de preservar a liberdade de prescrição da sua equipe. "Os médicos estão cada vez mais ocupados e quase não têm tempo para ler sobre as novas drogas", diz o pesquisador Stephen Soumerai, da Universidade de Harvard. "Com isso, a influência da propaganda feita pelos representantes da indústria farmacêutica torna-se quase incontrolável."
No Brasil, também é comum que os médicos recebam presentes dos laboratórios, o popular jabá. A banalização dessa prática levou o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) a bater forte na indústria farmacêutica e a exigir um comportamento ético dos profissionais ante o cortejo de vendedores. Há três anos, o então presidente do Cremesp, Pedro Paulo Monteleone, acusou os laboratórios de intervirem de forma abusiva no setor médico. Segundo ele, o patrocínio de eventos e o pagamento de passagens para médicos teriam criado uma situação de dependência que, em alguns casos, praticamente havia transformado os congressos em encontros propagandísticos dos laboratórios. Na época, José Eduardo Bandeira de Melo, representante da então Abifarma (atual Febrafarma), rebateu essa afirmação e colocou a culpa nos médicos, dizendo que eram eles que exigiam favores da indústria, ameaçando até não mais receitarem seus produtos caso não recebessem passagens aéreas ou o pagamento desses cursos e encontros.
A atual posição da Febrafarma é mais amena. Segundo Ciro Mortella, atual presidente da entidade, essas acusações não são de médicos, mas de políticos em busca de promoção pessoal. "É ridículo imaginar que, após sete anos de estudo, um médico se comporte como um mentecapto e se deixe manipular como uma criança", afirma Ciro.
Mas, se é ingenuidade atribuir à ganância dos laboratórios toda a culpa pelo abuso de medicamentos, quem seriam os outros responsáveis? Foi tentando responder essa pergunta que alguns especialistas chegaram à conclusão de que o problema pode estar em certos vícios da própria abordagem médica.
Tradicionalmente, o que a medicina chama de doença são mudanças estruturais em nossas células, causadas por agentes específicos que devem ser combatidos com o uso de substâncias externas - os medicamentos. Mesmo reconhecendo que uma série de doenças são de fundo psicológico (as chamadas doenças psicossomáticas), boa parte dos médicos vêem no momento da prescrição uma forma prática e segura de abreviar a consulta. "À medida que o médico tem menos tempo e disponibilidade para conversar e se dedicar aos seus pacientes, mais propenso fica a receitar medicamentos", diz o psiquiatra e psicanalista José Atílio Bombana, da Unifesp. "Ele abre mão da sua grande arma terapêutica, que é o contato com o paciente, e adota como única resposta a medicação, o que, naturalmente, estimula a utilização de remédios."
Nessa rotina, não é raro que um paciente seja indicado a tomar psicotrópicos (como um calmante) ou drogas para hipertensão no fim de uma consulta de apenas dez minutos - tempo no qual é impossível para o médico levantar o histórico do paciente. Como conseqüência, vem a automedicação, uma vez que o paciente tende a concluir que, se o médico gastou menos de dez minutos para prescrever o remédio, é bem provável que a droga não seja tão perigosa. Ou que a decisão do médico não tenha tantas conseqüências. Assim, a mesma decisão poderia ser tomada pelo balconista da farmácia ou pelo próprio paciente.
O problema é que os especialistas sabem que qualquer droga é perigosa, em maior ou menor grau. Tome-se o caso das reposições hormonais. Um único miligrama de hormônio - substância que, em sua forma natural, é produzida por uma glândula - é suficiente para alterar o funcionamento de sistemas vitais, as características morfológicas e o humor de uma pessoa. Bastam, por exemplo, 50 trilionésimos de grama de estrógeno por mililitro de sangue para garantir às mulheres as formas arredondadas e os traços delicados que são a marca do sexo feminino. Como a produção natural de estrógeno decai na menopausa, tornou-se hábito suplementá-lo em mulheres nessa fase da vida com a adição de hormônio sintético. O problema é que, desde a década de 70, efeitos deletérios vêm sendo constatados, entre os quais o câncer de útero.
Em julho passado, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos anunciou que as mulheres submetidas a tratamento com o repositor hormonal Premelle estavam mais sujeitas a infarto, derrame e câncer de mama.
"Todo remédio tem efeitos colaterais", afirma Arnaldo Lichtenstein, clínico-geral do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Os antialérgicos causam sonolência e dificuldade de concentração. Os antibióticos prejudicam rins e fígado e até podem causar surdez. A cortisona provoca pressão alta e úlcera; antiinflamatórios podem provocar úlcera, gastritre e hemorragia digestiva. Até os popularíssimos suplementos vitamínicos podem ter conseqüências indesejáveis. O excesso de vitamina C pode levar à formação de pedras nos rins e o das vitaminas A, D, E e K, causar lesões no fígado. Muita vitamina A provoca também fadiga, insônia e agitação. O pior é que a intervenção para aliviar tais efeitos, com o uso de outros medicamentos, não raro fecha um circuito de complicações das quais o paciente não consegue se libertar facilmente.

Evitando a dependência
"Qualquer pessoa pode se tornar dependente de medicamentos", diz o psiquiatra Marcelo Niel, um dos coordenadores do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Proad). Ele diz que os dois casos mais comuns de dependência estão ligados aos benzodiazepínicos (calmantes) e às anfetaminas (usadas como moderadores de apetite). "Quando os comprimidos acabam, os dependentes têm tremores, taquicardia e, no caso dos dependentes de anfetamina, até surtos psicóticos", diz o psiquiatra. Marcelo, contudo, reconhece que há uma classe de pessoas que está mais propensa a desenvolver uma relação conturbada com os remédios. Se você está pensando no seu amigo hipocondríaco, acertou.
É verdade que, pelo menos uma vez na vida, é normal sentir temores infundados acerca da própria saúde. Mas, como os hipocondríacos simplesmente não conseguem parar de se sentir doentes, eles terminam se tornando alvos frágeis da tendência ao abuso de remédios. Em geral, pessoas assim visitam a farmácia como se fossem a uma loja. Adoram novidades da indústria farmacêutica e sabem de cor todas as bulas. E, é claro, se irritam profundamente quando o médico diz que eles não têm nada. "Ele acha que estou fingindo", pensam nesse momento. E, de fato, os hipocondríacos não estão fingindo. Eles sentem a dor de que estão se queixando e sofrem com os sintomas da sua doença. A diferença é que seu mal está na mente e no complicado mecanismo que rege suas emoções e suas relações com o mundo exterior. Ao contrário do que muita gente pensa, a hipocondria não é um distúrbio raro.
Cerca de 5% dos casos de pacientes atendidos em clínicas e hospitais se enquadram nessa classificação, sem falar no fato de que mais de 80% dos diagnósticos médicos se resumem à sigla DNV (distúrbio neurovegetativo), a crise hipocondríaca que atinge as pessoas comuns, na agitação da vida moderna.
"A hipocondria é um dos recursos do homem para lidar com as dores do drama de sua existência", diz o psicólogo Rubens Volich em seu livro Hipocondria: Impasses da Alma, Desafios do Corpo. Com suas queixas, eles acabam conseguindo que o médico solicite exames e prescreva remédios. Sentem-se aliviados por alguns dias e, depois, encontram outro motivo para voltar ao consultório ou ao hospital. Às vezes, por obra dos próprios efeitos colaterais dos medicamentos ingeridos.
"A maioria dos hipocondríacos sofre de depressão", diz o psiquiatra Marcelo Niel. "E, enquanto esse problema não for tratado, eles continuarão expostos a medicamentos desnecessários." Como estão sempre ingerindo medicamentos, eles se tornam mais propensos a se tornarem dependentes. Mas como saber quem é viciado e quem não é?
Marcelo diz que as pessoas devem ficar alertas quando sentirem que estão condicionando vários momentos da vida ao uso de algum medicamento. Ele diz que considera normal que alguém tome um calmante em um momento especialmente insuportável. "O problema é quando qualquer situação de desconforto passa a ser esse momento crítico", diz o psiquiatra. Essa seria a hora de buscar orientação, antes que o sujeito venha a precisar de uma pílula para dormir, de outra para acordar, ou de uma para sentir fome etc. A maioria dos especialistas parece concordar num ponto de que pouca gente se dá conta: a maior parte das doenças pode ser curada pela ação do próprio organismo. "A natureza resolve sozinha 90% dos problemas de saúde", diz o médico Daniel Sigulem, professor da Universidade Federal de São Paulo. "Em geral, pede-se aos médicos apenas que não atrapalhem." Enfim, o que precisa ficar claro é que a ausência de remédios na vida de uma pessoa é uma garantia e quase sempre um sinal maior de saúde do que a presença maciça deles. Uma conclusão que, com certeza, você não vai encontrar na bula de nenhum medicamento.
Mercado de elite

Em US$ bilhões (2002)

América do Norte - 169,5
Europa - 100,8
Japão - 45,8
América Latina e Caribe - 30,5
Ásia - 20,1
Oriente Médio - 10,6
Europa Oriental - 7,4
Índia - 7,3
Austrália - 5,4África - 5,3
"Eu não conseguia parar de tomar"

"Como queria emagrecer, fui, há mais de dez anos, a um endocrinologista e ele me receitou um moderador de apetite, que não surtiu muito efeito. Pedi um remédio mais forte e ele me passou um comprimido à base de anfetamina. Na receita estava escrito um comprimido por dia. Insatisfeita com os resultados, resolvi tomar dois por conta própria. Como perdi até o apetite para almoçar, cheguei a perder 20 quilos. Mas o remédio não mexeu só com o meu apetite. Senti que os comprimidos me deixavam mais agitada, rápida no trabalho, elétrica. E, quando o remédio acabava, ficava ansiosa, deprimida, voltava a engordar. Procurava novamente o médico em busca de mais receita e, quando ele não receitava, comprava diretamente na farmácia.
Por não conseguir parar de tomá-los, cheguei a ficar desacordada e parar no pronto-socorro depois de tomar alguns comprimidos com álcool. Como passei a me sentir mal quando não tomava o remédio, há dois anos terminei no Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo). Os psiquiatras trocaram minha medicação, tive apoio de terapeutas, mas ainda hoje tenho seqüelas do uso abusivo da anfetamina. Tenho dificuldade de concentração, fico inquieta, como se ainda precisasse do remédio. Apesar da ajuda da terapeuta, continuo me achando gorda e sinto que a qualquer instante posso ter uma recaída."
M.R. é dona-de-casa, mora em São Paulo e tem 55 anos