segunda-feira, janeiro 15, 2007

PÊNIS

COM VOCÊS, O PÊNIS

Homens e mulheres acotovelam-se em busca do melhor lugar para assistir ao espetáculo. Crianças acenam, emocionadas, com estatuetas nas mãos. Turistas disparam suas máquinas fotográficas. O clima de expectativa explode em euforia quando 12 homens vestidos de branco se aproximam, abrindo espaço entre a multidão em transe. Eles carregam um enorme pênis cuidadosamente esculpido em madeira, com 2,15 metros de comprimento e 320 quilos, e, com ele nos ombros, marcham por 2 quilômetros sob aplausos e saudações. Estranho? Bizarro? Não para os fiéis do santuário de Tagata, no Japão, que organizam esse festival anual em homenagem ao pênis há mais de 1 500 anos. Eles acreditam que isso garante a fertilidade e a prosperidade e protege a população do mal.

Se você acha que esse é um fato isolado, sem importância, praticado em um local distante, saiba que não é isso que a história mostra. "A veneração do pênis, como símbolo de poder, força e coragem, uma espécie de síntese das virtudes masculinas, é muito antiga e vem sendo continuamente atualizada e adaptada de acordo com os costumes de cada época", diz o pesquisador americano David Friedman. Em seu livro Uma Mente Própria - A História Cultural do Pênis, ele descreve o mais antigo ritual desse tipo. Por volta do ano 275 a.C. os moradores de Alexandria erigiam um monumental falo dourado com 55 metros de comprimento, enfeitado com uma estrela na ponta, e o levavam pela cidade, onde meio milhão de pessoas entoavam poemas em homenagem ao astro da festa, suas qualidades e beleza ímpar.

Mito e religião conviveram em paz com o pênis durante toda a Antiguidade. "Egípcios, gregos, romanos usavam a imagem do falo para representar as forças criadoras e fecundas do Universo, o poder gerador da natureza", diz Bayard Fischer Santos, médico andrologista de Porto Alegre (RS), autor do livro A Medida do Homem. Na cidade de Pompéia, no antigo Império Romano, era comum colocar uma imagem fálica na porta de entrada das casas, ao lado da frase: "Aqui mora a felicidade". Não se tratava de um prostíbulo, mas de uma moradia que queria atrair sorte e afastar os espíritos das trevas. "O pênis aparecia em peças decorativas e artísticas sem um contexto erótico, mas como um símbolo das virtudes masculinas", afirma Mariela Kantor, professora de História da Arte da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo.

O caráter sexual só entrou em jogo por volta do século 2 a.C., quando o falo começou a ser usado como arma de sedução. Sem cerimônias, os gregos mostravam-no para conquistar donzelas e efebos e se exercitavam nus nas arenas esportivas.

A anatomia peniana era considerada bela e, como tal, deveria ser mostrada. Algo parecido com a atual valorização e exibição da bunda feminina em nossa sociedade.

Na Europa, tudo ia muito bem, todos estavam felizes expondo suas formas, até o século 5. Com o crescimento da influência cristã, o pênis, um ícone da força pagã, ganhou o título de vara do demônio. "Em uma cultura na qual a virgindade simboliza a pureza, o membro masculino representava tudo que era maléfico, vergonhoso e destruidor", diz Friedman. Afinal, o próprio Cristo teria sido gerado sem a participação do pênis. Essa linha de pensamento tinha um porta-voz: Santo Agostinho (sempre ele). "O pênis é a gargaleira poluída por onde emerge o mais obsceno dos eflúvios, o sêmen", escreveu o célebre pensador da Igreja.

Até o século 15, para possuir, expor ou utilizar um pinto deveriam se seguir regras tão restritivas que infringi-las poderia acabar em cana braba. Usá-lo para obter prazer sem procriar, por exemplo, era um pecado diante de Deus e um crime perante a sociedade. Na Inglaterra medieval, mais precisamente no século 6, assassinos eram condenados a sete anos de reclusão, enquanto homens que recebiam sexo oral podiam pegar prisão perpétua.

O falo em riste, antes associado à fertilidade, passou a ser a imagem dos sofrimentos infernais. O rigor religioso tampouco poupava os homens com problemas de ereção. "A incapacidade de procriação era considerada um desvio de conduta moral, uma condenação divina. Falhas sexuais comumente serviam de justificativa para a dissolução legal do casamento", afirma Friedman. Não era à toa que alguns homens adotavam medidas extremas, cortando o mal pela raiz. "Castrar-se chegou a ser uma prática comum entre religiosos e sacerdotes, que entendiam que dessa forma estariam eliminando sua faceta selvagem e mundana."

Durante séculos, em diferentes culturas foi comum a figura do eunuco. A castração era feita geralmente na infância e consistia em abrir o saco escrotal e remover os testículos. Em alguns casos, também o pênis era retirado. No Império Otomano os escravos eunucos eram valiosos por serem raros, já que, a cada dez homens operados, apenas três sobreviviam. Por volta do século 14, eles eram muito procurados pelos governantes, que lhes entregavam a administração de seus haréns. Pela confiança que inspiravam, chegavam a atingir altos postos na corte.

Na China, durante mais de 3 mil anos, os funcionários do palácio real eram eunucos. Treinados em técnicas militares, extremamente cultos e bem relacionados, em certos períodos eles tiveram mais poder que o próprio imperador. O último deles morreu em 1996, aos 94 anos. Na Itália, cantores de ópera tinham os testículos removidos para conservar o timbre agudo da voz. Os castrati surgiram no século 16, quando as mulheres foram banidas dos palcos, e foram proibidos pelo papa Leão XIII, em 1878. Ainda hoje, na Índia, os hijra constituem uma casta de eunucos com mais de 1 milhão de indivíduos.



Retrato falado

O Renascimento na Europa recolocou o homem no centro das discussões filosóficas e descortinou a anatomia humana. Foi Leonardo da Vinci que retomou o tema ao desenhar mais de 5 mil páginas com esboços sobre o pênis. Da Vinci dissecou cadáveres e elaborou o maior compêndio de anatomia sobre o órgão sexual masculino até então. Seus estudos libertaram o pênis do esquecimento e desbancaram teorias furadas sobre seu funcionamento. Algumas delas afirmavam que a ereção acontecia por inflação de ar e que o falo seria ligado a uma artéria do coração que lhe daria vida. Ou, ainda, que o sêmen escorreria da medula espinhal até a glande.

Hoje, isso tudo parece piada. Nunca soubemos tanto sobre a anatomia e o funcionamento do pênis. Os cientistas o acompanham desde seu nascimento. Na verdade, até antes disso. Eles descobriram, por exemplo, que ainda no útero da mãe a vida do pequeno pênis é marcada por uma atividade frenética. A partir do sétimo mês, o feto tem ereções a cada uma hora e meia, que duram até 30 minutos. A razão não está completamente desvendada, mas sabe-se que está relacionada com o amadurecimento do órgão. "É uma das vias para o desenvolvimento funcional e estrutural do membro", afirma Bayard.

Durante a infância, o aparelho reprodutivo do menino muda muito pouco, crescendo desproporcionalmente ao resto do corpo. Um testículo de uma criança de 4 anos tem cerca de 2 centímetros cúbicos. Aos 10 ou 11 anos ele continuará com a mesma medida. Nessa fase, a importância do pênis fica restrita à curiosidade que desperta: é a época das explorações instintivas, das brincadeiras e comparações. Mas, de repente, chega a puberdade. As revoluções hormonais que vêm com a adolescência transformam o singelo pipi no imponente falo. O corpo reage para preparar o pênis para se tornar um órgão reprodutivo competente e competitivo. "São ajustados e testados todos os mecanismos de capacitação sexual do pênis. Tanto fisiológicos como cerebrais", diz Bayard. E, aí, ninguém segura o moço. Ele triplica de tamanho em seis meses, enquanto o saco escrotal cresce seis vezes nesse tempo. Enfim, aos 17 anos de vida, ele atinge a estatura, o diâmetro e o formato que irá ostentar para o resto de seus dias.

No topo, a glande, ou cabeça do pênis, envolta pela chamada pele vermelha, a mesma que reveste mamilos e lábios. Extremamente enervada, ela confere ao local uma sensibilidade incomparável e um brilho próprio, resultado de sua superfície lisa. Uma artimanha da natureza para atrair os olhares femininos. "O formato abaulado e a pele brilhante da glande são estruturas de exibição para provocar a estimulação visual na parceira", afirma Eduardo Farias, médico e professor da Universidade de São Paulo (USP).

Descendo um pouco, a rafe, ou corpo do pênis, é coberta por uma pele fina e extremamente elástica, similar à das pálpebras, onde existem pêlos minúsculos e glândulas que servem de proteção e ajudam na lubrificação. Sob a epiderme estão os famosos corpos cavernosos e esponjoso, a uretra e os canais deferentes, que correm da bolsa escrotal até atingirem as vesículas seminais, que estão justapostas à próstata. Uma característica rara do pinto é não acumular gordura, o que nos humanos só ocorre também no nariz e na orelha. A haste, assim como a glande, tem uma sensibilidade chamada de indiscriminada: ela reage a alterações de temperatura, pressão ou tato, mas não é tão sensível às mudanças de textura.

Logo abaixo, fica a bolsa escrotal: um refrigerador de espermatozóide, responsável pela produção, armazenamento e climatização dessas sementes, além de fabricar o principal hormônio masculino, a testosterona. Para manter-se sempre meio grau centígrado abaixo da temperatura do resto do corpo, o saco escrotal segue uma rotina de exercícios. Sempre que preciso, ele distende para refrescar ou intumesce para concentrar calor. Tanto sobe e desce só é possível graças às túnicas musculares da pele, que enrugam ou relaxam de acordo com a necessidade.

Ei-lo, então, pronto para guerrilhar e conquistar o mundo. Determinado e persistente, ele procura, agora, a ereção: seu desejo instintivo e sua razão fisiológica de ser. A natureza humana levou essa intenção primordial tão a sério que reservou ao homem dois mecanismos de ereção: o central e o reflexo. Ambos são sistemas complexos, que lembram aulas de física, disfarçadas de cenas de amor. Imagine que um homem vai experimentar uma roupa numa loja. Da solidão de sua cabina ele vê, pelo reflexo do espelho, o vestiário ao lado, onde uma loira lindíssima, de corpo escultural, começa a se despir. A calça, a blusa, a lingerie... e pimba!

O processo foi ativado. A imagem é gravada e aciona os núcleos cerebrais ligados à sexualidade. Esses enviam uma corrente elétrica para o órgão genital e causam dilatação nos vasos, que permitem a entrada de um grande volume de sangue. Há, ainda, ereções que acontecem em situação nada eróticas, desencadeadas, por exemplo, pela vontade de urinar. Nesse caso, o caminho é outro e passa pela medula espinhal, que envia impulsos para ativar o sistema reflexo no pênis. A ereção involuntária, sem estímulos sexuais, também é comum durante o sono. "Quando atingimos o sono profundo desativamos por alguns minutos o sistema parassimpático, responsável pelo controle das mensagens cerebrais e que, nesse caso, atua como inibidor dos reflexos. Sem ele, o pênis tende a permanecer rijo", afirma o médico Bayard.

Medular ou cerebral, não importa. O relevante é que o pênis passa por uma mudança rápida e radical, graças a um sistema hidráulico que gera uma pressão interna capaz de intumescer o órgão. Explicando melhor: em repouso, o pênis comporta uma quantidade irrisória de sangue (8 mililitros), que salta para 80 mililitros quando ereto, provocando a maior pressurização a que um órgão humano pode se submeter: 320 milímetros de mercúrio, nada menos que 25 vezes maior que a pressão arterial (a força com que o coração bombeia sangue para todo o corpo). Com tanto impulso, o sangue comprime as veias e impede que o membro relaxe. Não é por acaso. A natureza se programou para dificultar o escape de sangue. O pênis é a única região do corpo que tem duas artérias para cada veia. A mensagem é clara: há o dobro de vias para entrar do que para sair. Uma vez duro, o pênis tem pelo menos o dobro do tamanho, dez vezes mais quantidade de sangue e suporta até 5 quilos dependurados sobre ele.

Haja musculatura: a cada ejaculação são cerca de 5 mililitros (com 300 milhões de espermatozóides), menos que uma colher de sopa , que irão percorrer em torno de 8 metros de canais só para chegar até a extremidade da glande. Dali, os pequenos guerreiros avançam numa velocidade que costuma lançá-los a uma distância de 30 centímetros, mas que em situações de extrema excitação pode chegar a 1,5 metro. Ir longe pode ser uma vantagem para esse exército, que é muito mais valioso do que se costuma pensar. Fabricar novos espermatozóides não é tão fácil: são necessários três meses para que eles estejam totalmente maduros e prontos para a ação.

A ejaculação do homem é um momento raro na natureza. "Somos os únicos com condições de prolongar voluntariamente a ejaculação durante o sexo, o que exige uma complexidade comportamental elevada", afirma o médico Eduardo Farias. Ele diz que para a maioria dos animais a ejaculação é instintiva e rápida, reduzindo a penetração a segundos de duração. O sexo prolongado é um sinal de que o desejo, o prazer e os laços afetivos influenciaram a evolução do homem.



Sob medida

Entre os machos do planeta, os homens e alguns poucos primatas são quem mais se esforça pela ereção. A maioria dos mamíferos - incluindo a maior parte dos primatas - tem um osso na genitália, o báculo. Outros garanhões contam com cartilagens ou estruturas fibrosas que fazem a sustentação do pênis ereto sem despender muita energia, conseguindo um resultado mais rápido, duradouro e totalmente voluntário. Um gorila, por exemplo, controla a musculatura de seu pênis e, por isso, consegue mantê-lo rígido, com o mesmo esforço necessário para levantar um braço.

Em animais menos sofisticados na escala evolutiva, a variedade é ainda maior. Os invertebrados, por exemplo, têm ganchos, flagelos, sugadores, raspadores, arestas e até bifurcações na ponta do pênis. Aparatos para eliminar, do canal vaginal das companheiras, o esperma de seus rivais e aumentar as chances de seus próprios genes. Alguns tipos de tubarão têm dois pênis em formato de gancho, com pontas que parecem um leque para borrifar o sêmen, alcançando maior superfície de contato. A barata macho tem o membro dividido em lâminas que se desdobram para copular e se fecham no final, sendo guardadas no interior do corpo. Já o golfinho tem a glande capaz de fazer rotações intermináveis, fora do seu eixo, que são comandadas por determinações voluntárias.

Mas, justiça seja feita, se o pênis humano não chama a atenção pelo desenho arrojado, quando o assunto é tamanho e flexibilidade ninguém nos supera, pelo menos entre os primatas. O pênis do chimpanzé chega a 7 centímetros, quando ereto, enquanto o do gorila fica apenas em 5 centímetros, em média. Ambos têm a grossura de um lápis e não são capazes de curvaturas acentuadas. Nos humanos, o comprimento médio dobra e o diâmetro fica em torno de 3 centímetros. Leves torções são permitidas. Mas mesmo entre os homens existem diferenças estruturais impressionantes. Os machos da tribo hotentote, no sul da África, têm uma cartilagem dentro do pênis. Uma possível pista de que todos os exemplares humanos também a tiveram um dia. Porém, quis a evolução (e as mulheres) que essa pecinha desaparecesse.

É isso mesmo. Segundo Geoffrey Miller, psicólogo americano especializado em evolução humana e autor do livro A Mente Seletiva, foram as preferências sexuais das mulheres que conduziram as principais evoluções do órgão sexual masculino, selecionando para a cópula os machos que tinham as informações genéticas que as agradavam. "E a ereção humana representou um papel importante nessa escolha, já que ela é uma forma de o macho demostrar que é saudável e forte e que, além disso, está disposto para a cópula", diz Miller. Para ele, o prazer também foi determinante para chegar ao formato final do pênis, o que aconteceu há cerca de 60 mil anos. "Ele é produto da escolha das fêmeas, que preferiam o longo, grosso e flexível porque assim a cópula se tornava mais agradável", afirma.



Corpo e Alma

Se a forma do pênis é a ideal para as mulheres, para os homens ela continua um mistério. "A relação do macho com o próprio pinto raramente é harmoniosa", afirma Durval Muniz, historiador da Universidade Federal de Pernambuco. Para ele, a identidade masculina, ao contrário da feminina, tem um centro de comando biológico: o pênis. Isso explicaria por que os homens dão tanta importância a ele, preocupam-se com seu tamanho, comparam-no com os outros e entram em crise ao menor sinal de problema na região.

Eduardo Farias faz a seguinte analogia para explicar o mesmo assunto. O pênis tem cinco funções entre os primatas: atrair fêmeas, delimitar território, estabelecer hierarquia, intimidar o inimigo e fecundar. Ou seja, todas as missões essenciais para sobreviver em grupo. "Quando um macaco se sente ameaçado, fica em pé e tem uma ereção. Com ela, é como se ele dissesse: ´Tudo o que está ao meu redor é meu, não se aproxime, estou pronto para atacar´. O homem ainda faz isso, ao seu modo, como uma herança primitiva", diz Eduardo.

A civilização e a cultura nos deram recursos dissimulados para fazer essa representação. "O automóvel, por exemplo, substitui o falo na função de impressionar mulheres, declarar poder e intimidar rivais", afirma.

Esse comportamento faz parte da cultura masculina, que nem sempre é entendida pelas mulheres. A origem dessa diferença é a maneira como cada gênero lida com a sexualidade. O homem é falocêntrico, põe toda sua erotização no pênis, enquanto a mulher a distribui pelo corpo. "O pênis reúne os conceitos de procriação, prazer, virilidade e paternidade. Na mulher, eles estão separados entre o clitóris (prazer), útero (procriação), vagina (gênero), seios (maternidade)", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de sexualidade do Hospital das Clínicas da USP. É muita responsabilidade.

Isso justificaria a angústia dos homens em relação à sua virilidade. O símbolo de sua força e poder está fora de seu controle. "Para ficar ereto, o pênis segue suas próprias regras. Ele é indomável e pode enaltecer ou envergonhar o macho", afirma Carmita.

Foi Sigmund Freud que primeiro se preocupou com a alma do pênis. O fundador da psicanálise dedicou parte de sua vida e de sua obra para explicar o papel dele na formação do indivíduo e da sociedade. Para ele, o pênis era o órgão fundamental na formação do caráter de todas as pessoas. As mulheres se caracterizariam pela ausência e a inveja do falo, os homens pelo medo da castração e pelo complexo de Édipo. Freud acreditava que todo o comportamento dos indivíduos podia ser explicado pela relação dele (ou dela) com o pênis.

Sessenta anos depois de Freud publicar seus Três Ensaios sobre a Sexualidade, em 1901, o pênis se tornou mote da guerra dos sexos, virou emblema político e, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, foi um dos alvos prediletos dos discursos feministas. Na luta por direitos iguais, a mulherada contestava a tese de inveja do pênis, que de instrumento de prazer passou a ser símbolo da opressão. De novo um maldito, o pinto chegou a ser ameaçado por sua versão plastificada, o vibrador, cujo uso era encorajado pelas feministas. O resultado dessa batalha foi a chamada democratização do falo. "O pênis como símbolo de poder foi dividido com a mulher na esfera social. Hoje, elas também são chefes no trabalho e em casa e assumem papéis convencionalmente associados aos homens", diz Carmita.
Será que a importância ideológica do símbolo enfim ultrapassou seu significado concreto? Essa história ainda está longe de oferecer uma resposta definitiva. O fato é que a cada novo desafio nosso astro tem de reafirmar sua força e utilidade, ainda mais agora, numa era em que já é possível gerar um ser humano apenas com uma célula-mãe.


Frases




Ainda hoje na Índia há mais de 1 milhão de homens castrados


O pênis ereto dobra de tamanho com até 10 vezes mais sangue





Século 6 a.C.

Príapo, deus grego representado com o pênis em riste, simbolizava fertilidade e fecundidade. Filho de Afrodite e Dionísio, era o protetor dos rebanhos



Século 2 a.C.

Os gregos mostravam-se nus para conquistar donzelas e efebos. A anatomia peniana era considerada bela e, como tal, deveria ser revelada



Século 5 ao século 15

Durante a Idade Média, o furor religioso exercia um controle incrível sobre o uso do pênis. Foram criadas armaduras para impedir sua manipulação



Século 16

O Renascimento na Europa recolocou o pênis no centro da arte e da ciência. Os estudos de Leonardo da Vinci derrubaram mitos sobre seu funcionamento



1901

Com seus Três Ensaios Sobre a Sexualidade, Freud recolocou o pênis no altar de adoração de toda a sociedade. O poder do falo está de volta



1960

Os movimentos por direitos iguais entre homens e mulheres atacam o pênis, símbolo da dominação masculina. O prazer feminino começa a prescindir dele



Século 21
Depois da fertilização in vitro, o futuro acena com a possibilidade de seres humanos serem gerados sem a participação do pênis. É a era das células-mãe

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