quarta-feira, maio 09, 2007

SUICIDIO


POR QUE UMA PESSOA SE MATA?

A cada 40 segundos alguém se suicida em algum lugar do mundo. Uma das principais causas de morte entre os humanos, o suicídio estarrece, incomoda, silencia. Entenda o que gera o comportamento suicida e como esse gesto externo pode ser evitado

O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento - físico ou emocional - fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro. Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?
Atire a primeira pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extremas. Parece comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança. Os adjetivos são mesmo esses: extremo, insuportável, profundo. Mas, aos poucos, os seus sentimentos e idéias se reorganizam. Suas experiências cotidianas passam a fazer sentido novamente e você consegue restabelecer a confiança em si mesmo. Você descobre uma saída, procura apoio, encontra compreensão. Aquele desejo autodestrutivo, aquela vontade de resolver todos os problemas num golpe só, se dilui. E você segue adiante. Muitos, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O suicídio, para esses, parece ser a última cartada, o xeque-mate contra o sofrimento, um gran finale para uma vida aparentemente sem sentido, para um presente pesado demais ou para um futuro por demais amedrontador. E eles se matam.
Imperscrutável, no limite, o suicídio não tem explicações objetivas. Agride, estarrece, silencia. Continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos e até mesmo com o terapeuta. Mas as estatísticas mostram que o suicídio precisa, sim, ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual, de um sério problema de saúde pública. Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 815 mil pessoas se mataram no ano 2000 em todo o mundo - uma taxa de 14,5 para cada 100 mil habitantes. Isso significa um suicídio a cada 40 segundos. A "violência autodirigida", como o suicídio é classificado pela OMS, é hoje a 14ª causa de morte no mundo inteiro. E a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. Não pode mais ser ignorada.
Casos de suicídio muitas vezes são deliberadamente mascarados nas estatísticas oficiais. Suicídios de crianças tidos como morte acidental ou acidentes de automóvel, causados por jovens que dirigem alcoolizados e em alta velocidade: para os especialistas, esses são, sim, atos suicidas. "Se você investigar a vida dessas crianças e jovens semanas ou meses antes da morte, pode identificar sinais de que algo não ia bem", diz a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo (USP). A poeta americana Sylvia Plath (1932-1963) tentou se matar duas vezes antes de concretizar o suicídio (tais experiências levaram-na a escrever o romance A Redoma de Vidro). Uma das vezes foi um "acidente de carro". Aparentemente, Sylvia perdera os sentidos no volante e deixara o carro sair da estrada e ir ao encontro de um aeródromo. Segundo o crítico literário Alfred Alvarez, amigo da poeta, a própria Sylvia admitiu que saíra intencionalmente da estrada, com o objetivo de morrer.
"Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos morrer - morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a atenção ou para ficar na história", diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, um dos maiores especialistas brasileiros em suicídio. "Mas resolvemos continuar vivos e melhorar as nossas condições de vida. O suicídio, então, soa como um desatino. A pergunta que fica é: por que algumas pessoas desistem e outras não?"
Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem à "autópsia psicológica", um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que a levaram à morte violenta.
"Existem causas imediatas predisponentes - como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira - que agem como o último empurrão para o suicídio", diz a psicóloga Blanca Guevara Werlang, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica. "A análise das características psicossociais do indivíduo, porém, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade."
Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, em que vítima e agressor são a mesma pessoa. "A definição de suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é considerado morte por acidente ou negligência", diz o psiquiatra José Manoel Bertolote, líder da Equipe de Controle de Transtornos Mentais e Cerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS.
O fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina, no entanto, o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta momentos antes da ação. "Ele não sabe se quer morrer ou viver, se quer dormir ou ficar acordado, fugir da dor, agredir outra pessoa ou, de fato, encontrar o mundo com o qual fantasia", diz Roosevelt. Afinal, o suicida tem diante de si duas iniciativas complexas e contraditórias a conciliar naquele momento: tirar a vida e morrer. O suicídio ocorreria, então, num instante em que a pessoa se encontra quase fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, "livre" para atacar a si mesma.
Há suicídios e suicídios. Por isso, os especialistas costumam avaliar a tentativa de se matar ou o ato propriamente dito a partir de duas variáveis: a intencionalidade e a letalidade. A primeira diz respeito à consciência e à voluntariedade no planejamento e na preparação do ato suicida. A segunda, ao grau de prejuízo físico que a pessoa se inflige. Existem casos em que o indivíduo demonstra evidente intenção de morrer e alto grau de letalidade, ao optar por um método eficiente. Em outras ocorrências, a vontade de morrer é fraca, apesar de voluntária, e o método escolhido é pouco prejudicial. Ou seja: há casos de suicidas propriamente ditos. E há casos em que a pessoa só está pedindo socorro, implorando para ser resgatada. Claro que há quem não queira enfaticamente a morte mas, por usar um meio perigoso, acabe sendo bem-sucedido.
E outros, cujo objetivo é mesmo acabar com a própria vida, por desconhecimento da maneira mais efetiva de causar danos graves a si mesmos, acabam sobrevivendo. (Aliás, esses, se não receberem tratamento adequado, são candidatos a uma nova tentativa.)

"Minha cabeça não recupera"
Dados da OMS indicam que o suicídio geralmente aparece associado a doenças mentais - sendo que a mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Estima-se que uma em cada quatro pessoas sofrerá de depressão ao longo da vida. Entre os subtipos, a depressão bipolar - em que fases de euforia e apatia profundas se alternam - parece ser a de maior risco. O alcoolismo responde por 18% dos casos de suicídio, a esquizofrenia por 14% e os transtornos de personalidade - como a personalidade limítrofe e a personalidade anti-social - por 13%. Os casos restantes são relacionados a outros diagnósticos psiquiátricos.
Estudos de autópsia psicológica (feitos com base em entrevistas com amigos, familiares e médicos do suicida) mostram que mais de 90% das pessoas que se mataram no mundo tinham alguma doença mental. Entretanto, doenças psiquiátricas não são condição suficiente para o comportamento suicida, já que outros fatores - emocionais, socioculturais e filosóficos - também entram em jogo. Na verdade, essas doenças provocam uma vulnerabilidade maior ao suicídio. "É comum que a pessoa, quando está com depressão, tenha pensamentos pessimistas, ache que a vida não vale a pena e que talvez fosse melhor morrer", diz o psiquiatra Humberto Corrêa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Mas a maioria dos deprimidos não tentará se matar. Somente os mais impulsivos e agressivos procuram o suicídio."
Hoje, sabe-se que indivíduos com alteração no metabolismo da serotonina - um dos mensageiros químicos mais importantes do nosso cérebro - apresentam maior risco de suicídio que os demais. Em sua pesquisa sobre a genética do comportamento suicida, Humberto analisou pacientes com depressão e esquizofrenia e constatou que todos aqueles que haviam tentado se matar tinham a chamada função serotoninérgica diminuída. (Ou seja, problemas no conjunto das etapas que envolvem a participação da serotonina: sua síntese, sua ligação com os receptores celulares e seu transporte. Se há falha em alguma etapa, a atuação desse neurotransmissor se reduz.)
"Quanto maior a intencionalidade suicida e mais letal o método usado, menor a função cerebral da serotonina", diz Humberto. O próximo passo é pesquisar que genes ligados ao funcionamento da serotonina - são mais de 20 - poderiam estar mais associados ao comportamento suicida. Diversos grupos internacionais dedicam-se a estudos desse tipo. O psiquiatra Pavel Hrdina, diretor do Laboratório de Neurofarmacologia da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que pacientes depressivos portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina apresentavam duas vezes mais chances de cometer suicídio que aqueles sem a mutação. "A alteração nesse gene aumenta o risco de ideação suicida e de tentativas de autodestruição em casos de depressão grave", diz Hrdina. Os cientistas tentam agora entender a relação direta entre a serotonina e o suicídio.
"Há uma forte evidência de que a serotonina inibe o comportamento violento, agressivo e impulsivo. Mas o que sabemos sobre a ligação entre esses comportamentos e o suicídio?", escreve a psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, portadora de depressão bipolar, familiarizada com a ideação suicida (ela mesma já tentou se matar) e autora do livro Quando a Noite Cai. "Embora muitos pacientes tenham planos bem formulados para o suicídio, a cronometragem definitiva e a decisão final para a ação costumam ser determinadas por impulso." Portanto, os fatores biológicos são particularmente importantes para a decisão sobre quando apertar o botão "morrer".
A participação genética no suicídio vem sendo pesquisada desde a década de 1920. Um estudo feito na Dinamarca mostrou que os parentes biológicos de pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e que se suicidaram posteriormente tinham taxas de suicídio significativamente maiores que as observadas entre os parentes adotivos. Entre gêmeos idênticos, de acordo com uma pesquisa americana, a possibilidade de um irmão se matar caso o outro já tenha se suicidado gira em torno de 15%. Para os gêmeos não-idênticos, a taxa cai para 2% ou 3%.
Tal componente genético poderia explicar, em parte, os casos de suicídio numa mesma família. Filhos de pais depressivos teriam uma predisposição maior à doença. Por isso, muitos especialistas incluem os parentes de um suicida no grupo de risco. Mas, no caso de padrão familiar para o suicídio, não só a genética pode exercer influência sobre o comportamento, mas também o modelo presente naquele núcleo social. Filhos podem se inspirar na solução que pais suicidas encontraram, por exemplo, de usar a morte como saída para um conflito.

"Desculpa, não consegui"
O escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950), 12 anos antes de se matar com barbitúricos, tinha escrito: "Ninguém nunca deixa de ter um bom motivo para o suicídio". A angústia existencial do suicida sempre vai fornecer justificativas para a sua morte. Ele sempre poderá enxergar a vida sem sentido ou ver prevalecer em si um sentimento neurótico de desvalia, derrota e de baixa auto-estima. Daí a criação de fantasias em torno da morte. Como se trata de um fenômeno pouco entendido e também considerado tabu (leia a matéria "Morte", na Super de fevereiro de 2002), o suicídio geralmente é recriado de acordo com as expectativas do indivíduo. O suicida não pensa, por exemplo, que vai se decompor e virar pó.
"O suicídio é um ato de linguagem, de comunicação. Como vivemos numa rede de relacionamentos, a nossa morte significa algo para as outras pessoas", diz a psicóloga Maria Luiza Dias Garcia, coordenadora da Clínica de Psicoterapia Laços, em São Paulo, que analisou mensagens (bilhetes, cartas, gravações) deixadas por suicidas no livro Suicídio - Testemunhos do Adeus. "Constatei, pelos discursos, que o suicida está num quadro de embotamento, como se estivesse afogado nas próprias emoções. Ele não aproveita os vínculos sociais para partilhar seus sentimentos e vê o mundo de uma maneira muito própria." O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, uma fala que não pôde ser dita.
Os especialistas costumam diferenciar as tentativas de suicídio do ato em si, uma vez que, de acordo com a intencionalidade e a letalidade, o gesto pode assumir sentidos diferentes. As tentativas de se matar são vistas como um grito por ajuda, sintoma de uma falha tanto no sistema familiar quanto no grupo social. "O indivíduo não consegue pedir socorro de outro modo, então opta por um ato extremo", diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC de São Paulo. "Por que ele não foi ouvido? Todos dão conselhos, mas ninguém ouve o que ele tem a dizer. Esse indivíduo, portanto, fica com a impressão de que não existe para o mundo."
Incapazes de comunicar a própria dor, os suicidas recorrem a algumas fantasias para justificar a si mesmos a autodestruição. A busca de uma outra vida é uma das mais comuns. O indivíduo enxerga no suicídio a oportunidade de interromper uma existência infeliz e recomeçar, com uma nova chance para acertar. Matar-se também pode ser um jeito de acelerar o reencontro com pessoas queridas já mortas - o pai, a avó, um amigo, o cônjuge. Outras fantasias comuns acerca do suicídio: gesto de vingança ou rebeldia, castigo e autopenitência. "A idéia da não-existência é tão insuportável que a mente humana inevitavelmente recorre às fantasias para levar adiante o projeto de auto-aniquilamento", diz Roosevelt Cassorla. Mas o indivíduo nem sempre tem acesso consciente a essas fantasias.
O psicólogo Valdemar Angerami-Camon, do Centro de Psicoterapia Existencial, chefiou por quatro anos o Serviço de Atendimento aos Casos de Urgência e Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e constatou como tais fantasias estão presentes na mente daqueles que querem se matar. "O que me impressionava eram as pessoas que tentavam suicídio dizerem que não queriam morrer", diz Valdemar. "Como alguém tenta o suicídio e diz que não quer morrer? Na verdade, queriam acabar com uma situação de desespero. Como não conseguiam ver outra alternativa, recorriam ao suicídio. Mas, ao depararem com a possibilidade concreta da morte, percebiam que não queriam, de fato, morrer."
O psiquiatra Claudemir Rapeli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de dois extensos trabalhos sobre suicídio, também constatou esse sentimento em boa parte dos suicidas que atendeu no Hospital das Clínicas de Campinas. "O arrependimento é imediato. Reconhecem que foi uma atitude impulsiva, desesperada, ansiosa." Claudemir conta a história de um rapaz de 18 anos que tentou suicídio tomando um agrotóxico letal. (A substância provoca, em algumas semanas, uma espécie de fibrose pulmonar que impede a respiração normal e o indivíduo morre sufocado.) "Quando ele começou a sentir que não ia melhorar, que os médicos não podiam fazer mais nada, o pânico dele foi comovente", afirma. "A motivação foi banal - uma briga com a namorada por achar que ela o estava traindo. Tomou o veneno para livrar-se da rejeição, mas não queria a morte. Ele pedia a todos os médicos que não o deixassem morrer."
Você pode argumentar que muita gente se vê em situações de grande desespero ou solidão existencial e, mesmo assim, não busca o suicídio. O que faz a diferença? Na verdade, não existe uma personalidade suicida - existe, sim, uma vulnerabilidade emocional (que pode ser trabalhada com o apoio de um parente, um psicoterapeuta ou um amigo). "Quem tem uma estrutura de ego frágil pode não suportar uma grande perda ou um momento de crise e, num impulso, acaba cometendo o suicídio", diz Ingrid Esslinger. O ego se constitui a partir dos primeiros vínculos afetivos, do modo com que o bebê foi cuidado pelas figuras de apego e da educação que a criança recebeu. Um ego fraco não tolera a frustração, não tem capacidade de espera, não suporta lidar com a impotência, com os limites e com os "nãos" que a vida impõe.

"O sistema mata!"
Mesmo sendo resultado de uma escolha individual, o suicídio também é visto como uma questão social. O pioneiro no estudo desse campo foi o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), com o clássico O Suicídio, de 1897. "Existem vários estudos comprovando a influência da cultura, do ambiente e da religião sobre as taxas de suicídio, seja como facilitadores, seja como limitantes", afirma José Manoel Bertolote. Ele e a equipe do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS publicaram recentemente um estudo, numa revista científica norueguesa, mostrando que as taxas de suicídio mais baixas encontram-se em países islâmicos, seguidos de países hinduístas, cristãos (mais baixas em católicos que em protestantes) e budistas, nessa ordem.
As taxas mais altas vêm de países "ateus", que compunham o antigo bloco comunista: Lituânia, Letônia, Estônia, Rússia, Cuba e China. A religião aparece, portanto, como um mecanismo de "proteção" contra o comportamento suicida (todas as crenças religiosas condenam, em maior ou menor grau, o suicídio).
Combinada a outras influências, a religião pode ser também fator de estímulo para os "suicídios altruístas ou heróicos", na definição de Durkheim. Cada membro do grupo está disposto a sacrificar a sua vida em prol das crenças. "Os casos mais recentes são os dos homens-bomba entre os palestinos e dos suicidas de 11 de setembro, relacionados a situações políticas muito específicas e à crença religiosa islâmica", afirma Maria Cecília de Souza Minayo, doutora em Saúde Pública e professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Embora as mulheres sejam mais propícias a ter pensamentos suicidas que os homens, as taxas de suicídio masculino são mais elevadas. E os métodos que eles usam são mais definitivos e violentos, como uso de arma de fogo e enforcamento. Em média, ocorrem cerca de três suicídios masculinos para um feminino - com exceção de algumas regiões da Ásia, em especial na China, onde o número de mulheres que se matam supera o de homens e há mais casos no meio rural que nas cidades -, o que também contraria o padrão mundial.
Cada sociedade tem uma taxa mais ou menos constante de suicídios. No caso do Brasil, a média é de 4,5 suicídios por 100 mil habitantes nos últimos 20 anos. Número relativamente baixo, se comparado à taxa da Finlândia, por exemplo, que é de 23,4 casos em 100 mil pessoas. As taxas brasileiras de suicídio se elevam conforme a idade dos indivíduos, até atingir sua máxima expressão na faixa de 70 anos ou mais, quando chegam a 7,3 suicídios em 100 mil habitantes. Dentro de um país, o Brasil ou outro, as taxas mais altas vêm da comunidade indígena e dos imigrantes, principalmente dos núcleos que perderam muito da sua identidade cultural. Segundo a OMS, há fatores que claramente aumentam a probabilidade de suicídio no grupo social. Taxas de suicídio são altas durante épocas de recessão econômica e de forte desemprego. Também se elevam em períodos de desintegração social e instabilidade política.
"A adolescência e a velhice são os dois momentos mais propícios tanto para a ideação e as tentativas de suicídio quanto para concretização do ato, por razões diferentes", diz Cecília. Na velhice, os motivos com freqüência se devem à depressão, a sentimentos de rejeição e abandono e à dificuldade de aceitar certas enfermidades dolorosas e incapacitantes, como o câncer. "Na adolescência, os problemas de conflito familiar, de dificuldades de identificação, os sentimentos de perda ou de inferioridade, a baixa auto-estima, em casos específicos de personalidades com tendências depressivas e de isolamento, podem se associar e resultar em tentativas ou em atos de suicídio", afirma ela.
O cansaço existencial e as crises constantes também alimentam o desejo de morrer.

"Eu não deveria existir"
Para o filósofo e escritor argelino Albert Camus (1913-1960) só há um problema filosófico verdadeiramente sério sobre o qual o homem deve refletir: o suicídio. Segundo ele, a questão fundamental da filosofia é responder se vale a pena ou não viver. "O homem vive num clima de absurdo e pouco pode esperar da história. Esses obstáculos colocam a existência como um problema. Novamente, a pergunta se impõe: viver vale a pena?", diz o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, da USP. "Na perspectiva de Camus, o suicídio está sempre no horizonte do indivíduo porque a pergunta sobre a validade da vida é permanente. Isso não significa que a morte é a única solução. A saída pode ser o enfrentamento lúcido, ainda que um tanto solitário, desse clima de absurdo."
Uma reflexão filosófica mais profunda da contemporaneidade revela que a vida não é mais considerada um valor - pois, diante da moderna sociedade de consumo, perdeu gravemente o caráter sagrado - e, por isso, o suicídio também foi banalizado. Tornou-se alternativa descartável. "Já não representa mais um ato de contestação ou um ato exemplar nem parece resultado de uma dor psíquica insuportável, como foi no passado. O significado do suicídio também se perde nessa tendência ao não-pensamento que assola o mundo contemporâneo", diz a filósofa Olgária Mattos, também da USP. A sociedade de consumo é falsamente hedonista: promete gratificação imediata e, ao mesmo tempo, frustra as próprias perspectivas que oferece. O suicídio seria também uma conseqüência dessa impulsividade: uma reação às promessas não cumpridas de felicidade e satisfação instantâneas e à decepção que daí decorre. "O suicídio, hoje, vem da dificuldade de entrar em contato consigo mesmo.
O autoconhecimento dá trabalho, exige empenho e tolerância à frustração", diz Olgária.
A pergunta fundamental de Camus continua a nos martelar. "O suicídio agride porque nos diz o tempo inteiro da nossa possibilidade de escolha. Porque, se o outro faz isso, eu também posso ter essa escolha. Porque eu terei de me haver com o meu próprio potencial suicida, ou com o meu próprio desejo de morte", diz Ingrid Esslinger.
Levado às últimas conseqüências, o suicídio também pode parecer um ato de afronta a Deus. "Tirar a própria vida dá, ao indivíduo, a sensação de fazer algo que é divino e entrar em contato com o mistério", afirma Denise Ramos. "O suicida passa da extrema impotência - não posso mudar nada - à extrema potência - acabo com a minha vida quando e como eu quero. Nesse momento, em sua fantasia, se iguala a Deus por provocar também um ato que vai além da natureza humana."
Para o teólogo e filósofo Renold Blank, da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo, tal atitude de achar-se o único responsável pela própria vida ultrapassa os limites éticos. "Do ponto de vista ético, a vida de cada ser humano tem sentido não só para si mesmo mas para os outros também", diz ele. "Por meio da minha vida, dou sentido à vida dos outros e, assim, a minha existência ganha significado. Se acabo com a minha vida, acabo com todas as possibilidades de dar sentido à vida de outras pessoas. Falho em minha responsabilidade com os demais." As ações de cada indivíduo repercutem no grande sistema de relações sociais e ganham uma dimensão histórica - o que é feito hoje, mesmo em âmbito pessoal, tem sempre uma conseqüência futura. O suicídio funciona, então, como uma brusca ruptura dessa rede.
"O suicídio é um ato privado que não representa somente uma violência contra si mesmo mas também contra mais, pelo menos, seis pessoas. Elas são forçadas a conviver com os sentimentos de vingança, vergonha, culpa, sofrimento psicológico, medo de enlouquecer e de também cometer o suicídio", afirma o suicidologista australiano Diego De Leo, diretor da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), organização não-governamental que reúne profissionais e entidades envolvidas no estudo do comportamento suicida.

"Sei que voceis me perdoarão"
Para enfrentar o problema, a OMS lançou, em 1999, o SUPRE, um programa mundial para a prevenção do suicídio. O objetivo é reduzir as taxas de mortalidade de "violência autodirigida", acabar com o preconceito em relação ao tema e prestar assistência técnica aos países para a formulação de políticas públicas e programas de prevenção. As diretrizes se baseiam no tratamento adequado das doenças mentais, na criação de campanhas educativas e de estratégias, como reduzir o acesso a instrumentos de autodestruição - armas de fogo e venenos agrícolas, por exemplo. Na mesma época, a OMS criou o SUPRE-MISS, um projeto conduzido em oito países a fim de identificar fatores de risco para o suicídio e métodos eficazes para diminuir as tentativas de tirar a própria vida. A representante brasileira nesse estudo é a Unicamp.
No núcleo familiar e comunitário, a melhor prevenção é falar sem temores sobre suicídio e saber identificar os pedidos de socorro das pessoas próximas. "Ninguém precisa dar uma solução para os problemas do outro, deve apenas aprender a ouvir. As pessoas encontram as soluções dentro de si quando conversam e refletem sobre seus conflitos e emoções", diz Denise.
Apostando nessa fórmula, existe o serviço de prevenção ao suicídio do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma entidade não-governamental de atendimento humanitário criada há 40 anos e presente em todo o Brasil. O CVV segue os moldes dos Samaritanos, de Londres, uma entidade fundada no início dos anos 1950 para atender pessoas angustiadas que precisavam de apoio psicológico. Todos os voluntários são treinados para ouvir seus interlocutores (por telefone, carta, e-mail ou pessoalmente) sem nenhum tipo de julgamento e respeitar sua decisão, mesmo que seja a de cometer o suicídio. "Respeitamos o sofrimento de quem nos telefona. Ele tem a liberdade de falar sobre o que quiser durante o tempo que for necessário", conta Adriana, voluntária do Posto da Vila Carrão, em São Paulo, e assessora de comunicação do CVV. "Estamos disponíveis para ouvir o que cada um tem a dizer sobre seus medos, dificuldades e angústias e ajudar a revalorizar a própria vida."
O serviço atende, em média, 1 milhão de ligações por ano. Isso revela a necessidade que as pessoas têm de falar sobre seus conflitos. Quando o assunto é suicídio, abrir-se pode ser terapêutico.
A experiência do CVV, dos Samaritanos e de outros programas semelhantes demonstra que o primeiro passo para evitar o suicídio está no resgate do sentido da existência. "O que motiva o suicida é a falsa idéia de que sua vida não tem mais valor nem para si mesmo nem para os outros", diz Renold Blank. O verdadeiro desafio parece fazer com que as pessoas percebam que sempre existe saída, não importa a situação. Que há como se reinventar e trabalhar em si mesmo aspectos de que gosta menos. Que nossa vida é importante para os outros também. E que sempre há alternativa, mesmo que, a princípio, seja dolorida. Afinal, a única coisa para a qual não há remédio é a morte.
Os intertítulos e os bilhetes desta reportagem são de mensagens de pessoas que se suicidaram.
"Tive medo de ser o próximo"

"Era de manhã quando recebi o telefonema avisando que meu irmão tinha se suicidado. Enforcou-se. Levei um susto muito grande, foi um choque. No caminho até minha casa, senti vergonha por ser da família de um suicida. Tenho três tias velhinhas, que são de uma geração em que o suicídio era ainda mais estigmatizado - e disse a elas que devíamos contar para todos que o meu irmão havia se suicidado. Preferi não ocultar. O gesto dele me trouxe uma sensação dolorida de que também poderia acontecer comigo. Tive medo de ser o próximo. Fiquei muito assustado. Venho de um núcleo de morte - minha mãe morreu jovem, de câncer, quando eu era criança, e meu pai sofreu um infarto agudo há alguns anos. Não acredito que tenham sido mortes naturais, talvez eles quisessem mesmo morrer.
Me senti muito culpado, foi inevitável. Pensei que talvez pudesse ter feito alguma coisa. O suicídio é uma violência muito grande. Parece uma bomba, uma explosão. Era meu irmão mais velho. Acho que ele nunca desejou alguma coisa com empenho. Tudo, para ele, tanto fazia, qualquer coisa estava bem. Era uma situação crônica. Ele entrou em várias faculdades e não terminou de cursar nenhuma. Tentou vários empregos, mas saiu de todos eles. Foi casado, separou-se, tinha uma namorada. Aparentemente sua vida estava estruturada. E ele não era depressivo. Talvez não estivesse vendo perspectivas. As razões do suicídio são um mistério. Pensei muito em quais teriam sido os motivos. Só relaxei quando assumi que não podia entendê-los. No enterro, senti uma raiva muito, muito grande. Naquele instante, experimentei uma profunda sensação de abandono. Nunca tinha sentido isso antes. Meu irmão foi enterrado no mesmo túmulo onde já estavam os meus pais.
Fiquei sozinho. Tenho muita vontade de viver. Acho que é uma espécie de resistência - gosto de festas, brigo pela vida, vivo intensamente, tenho amigos, curto meu trabalho, sou afetivo... Sempre fui assim, mas o suicídio me fez ver de maneira mais consciente que a vida é uma só. Não sou nada religioso, mas acho que todos nascemos para ser felizes, para desfrutar.
Pensei muito nisso, logo depois do suicídio. Um dia, fiquei parado uns 15 minutos diante de uma avenida onde os carros vinham em alta velocidade e não havia faixa de pedestres. Era só um passo, tão fácil, e tudo se acabaria. Depois, ao visitar um novo apartamento, também contemplei a janela demoradamente... Num ato poderia resolver tudo, todos os meus problemas. Mas prefiro os meios mais difíceis. Não acredito em outra maneira."
E.S., médico e professor universitário, 45 anos

25 comentários:

Aninha disse...

Gostaria de manter um contato com o jornalista Andre Romano para falar sobre o texto:"Porque uma pessoa se mata?"
Estou escrevendo um livro e esse texto foi dos mais interessantes que já li.Gostaria de poder publicar parte dele em meu livro.
Aguardo retorno.
Ana Maria

Anônimo disse...

megan fox plastic surgery, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187756]megan fox jennifer's body lesbian scene[/url] megan fix naked
kim kardashian sex footage, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187768]kim kardashian measurements[/url] kim kardashian sez tape tube
talor swift music vidoes, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187772]taylor swift - love story[/url] taylor swift christmas
hannah montana season 3, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187786]naked pictures of hannah montana[/url] hanna montana naughty
read books online for free harry potter, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187792]why aunt petunia cannot tell her secret to harry potter[/url] harry potter and the sorcerer s stone and character list
cruise specials and sydney to la, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187798]cruise departing san francisco, california to baja[/url] best cruises to bahamas
justin bieber lafayette, la, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187812]justin bieber gossip[/url] jsutin biebers education
britney spears pepsi commercials, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/187814]britney spears blow job[/url] naked britney spears
megan fox in thong, [url=http://discuss.tigweb.org/thread/175542]megan fox on a bike[/url] megan fox hot metacafe

Anônimo disse...

whats up everyone


just registered and put on my todo list


hopefully this is just what im looking for looks like i have a lot to read.

Anônimo disse...

if you guys desideratum to allow [url=http://www.generic4you.com]viagra[/url] online you can do it at www.generic4you.com, the most trusted viagra dispensary repayment in appearance generic drugs.
you can ascertain drugs like [url=http://www.generic4you.com/Sildenafil_Citrate_Viagra-p2.html]viagra[/url], [url=http://www.generic4you.com/Tadalafil-p1.html]cialis[/url], [url=http://www.generic4you.com/VardenafilLevitra-p3.html]levitra[/url] and more at www.rxpillsmd.net, the pre-eminent [url=http://www.rxpillsmd.net]viagra[/url] provenience on the web. well another great [url=http://www.i-buy-viagra.com]viagra[/url] pharmacy you can find at www.i-buy-viagra.com

Anônimo disse...

Everything about horse betting

We came across an article on ESPN.com written by Bill Finley entitled "2005 was a lousy year for horse racing." In his article Mr. Finley cites 9 reasons why 2005 was such a bad year for horse racing in America. Although we agree with several of his observations, number 8 on his list, "U.S. Pari-Mutuel Handle Falls", should have been dealt with more objectively.
[url=http://www.pulsebet.com]horse betting[/url]
There are two main forms of horse racing. There is harness racing and thoroughbred horse racing. The form of horse racing, which is popular in most parts of the world, is thoroughbred racing. On the other hand, harness racing is popular in countries like the United States, Canada, Australia, France, and Italy. Another form of racing popular in US is the quarter horse racing.


The Triple Crown, like so many of our best traditions, wasn't created, it grew into being. During the late 1800's three different tracks created races to test the new crop of three year olds. These three races, the Belmont Stakes, the Preakness and the Kentucky Derby were held in the same year for the first time in 1875. It wasn't until 44 years later that Sir Barton (1919) became the first horse to win all three. The term, Triple Crown, wasn't coined until 1930 when Daily Racing Form's columnist, Charles Hatton, used it while covering Gallant Fox's winning efforts.

[url=http://www.pulsebet.com]horse racing sportsbook[/url]
Barbaro with Edgar Prado on board has won all 6 of his lifetime starts, 4 of his wins in 2006 and all at distances of a mile or more (his first 3 races were on the turf). Barbaro will be the odds on favorite for the Preakness. Gone are the double digit returns when we picked him for the Derby so most of us are left looking for horses to combine him with for the exacta, trifecta and superfecta wagers. Even though we want to see him win, at the probable scant return for a win, one must look to see if there's a horse in the field that can best him.

Anônimo disse...

genital warts pictures [URL=http://www.ezinearticles.com/?Treatment-For-Genital-Warts---The-Proven-Natural-and-Safe-Way&id=1787364"]treatment for genital warts[/URL] pictures of genital warts in women

viagra disse...

Wow, nice post,there are many person searching about that now they will find enough resources by your post.Thank you for sharing to us.Please one more post about that..

Anônimo disse...

オンラインカジノ アフィリエイト A crimson abroad as I fretted wi' care, went abroad, except in visits to a French chapel in the neighbourhood; http://xn--japan-ym4dobj1jwjxk6dc.com/ オンラインカジノ 詐欺 The artful eloquence of Cornelia de Lalain did its work, and Renneberg オンラインカジノ ブログ [url=http://xn--japan-ym4dobj1jwjxk6dc.com/ ]オンラインカジノ 詐欺 [/url]bad to get well so quickly, could it?"

Anônimo disse...

On top of that, you can find laws and regulations in Canada regarding a cover within the the eye costs for payday loans. Payday loans are becoming used by shoppers in great britan in the last a long period. The UK legislation claims that payday cash advancements need a highly effective interest rate but payday loan organizations in the united kingdom may charge any amount for home interest rates. [url=http://paydayloansquicklm.co.uk]instant payday loans[/url] In the event the personal loan police officer and the borrower can work out of the difficulty with the repayments, then the two go their distinct approaches. This can range from the borrower catching up to the bills or even the loan getting lso are-composed with reduce payment amounts. Some finance companies will renounce late payment fees if the be lent wants to discuss their financial situation using a monetary therapist. It is to help you stop the scenario from being yet again later on. Commonly, the personal guidance will involve looking at your financial budget and locating tips on how to decrease paying out. These are typically sessions kept for free in the pay day loan agency. In cases the place that the personal loan office can not discuss tolerable words together with the borrower security around the consideration might be arrested. There will only be a guarantee belonging to the loan if your loan is guaranteed. As soon as the guarantee is captured, it will likely be sold to pay back towards the loan.

Anônimo disse...

vVlo GHD Hair Straightener
wMxg nfl football jerseys
wOlt botas ugg
7pEhd ghd nz sale
7hSbr ghd gift set

Anônimo disse...

[url=http://www.burberryhommefrsale.org/]http://www.burberryhommefrsale.org/[/url] ioilp [url=http://www.abercrombiefrancesale.com/]http://www.abercrombiefrancesale.com/[/url] woubt [url=http://www.burberryhommefrsale.org/]burberry femme[/url] tvptb [url=http://www.chaussurelouboutinsale.com/]christian louboutin[/url] tcpev

Anônimo disse...

oXkm ghd australia
fNvg ugg boots sale uk
lAml michael kors outlet
6lBvt cheap ugg boots
7yQxb chi straightener
8iKqc ghd straightener
2gLww cheap nfl jerseys
4bDos ghd nz sale
4nWix north face outlet
3sMwv ugg españa
2gPqn ghd website
6sWro michael kors sale
1rNei nfl jerseys
1vKwe planchas ghd baratas
9lAfq ugg boots usa

Anônimo disse...

pXeh coach usa
uRvg cheap ugg boots uk
xDfg michael kors
3xBnh ugg sale
0fRhx chi hair straightener
6cEuu michael kors handbags
4sUnm cheap nfl jerseys
3oGyk coach outlet
6qFcn cheap north face jackets
0nLsf ugg online
8qMzr red ghd
8zXfh michael kors purses
7vWfx nfl shop
4eEee planchas ghd
9fWgk ugg sale

Anônimo disse...


[url=http://yuptalk.ru/profiles/liquid0nation-u238758.html;sa][b]Cheap NHL Jerseys[/b][/url]
[url=http://www.purposegames.com/profile/176939][b]Cheap NHL Jerseys[/b][/url]
[url=http://www.2of7.com/Coupons/scheduling-details-to-michael-kors-outlet-which-just-a-few-know-about/][b]michael kors outlet[/b][/url]
[url=http://www.gameatfree.com/index.php?params=profile/view/183016/][b]michael kors outlet[/b][/url]
[url=http://ladygaga.wikia.com/wiki/Just_Dance_(song)/index.php?title=Few-Tactics-To-Simplify-michael-kors-outlet][b]michael kors outlet[/b][/url]

Anônimo disse...

[url=http://www.burberryfemmefrpascher.com/]burberry[/url] tjbtp [url=http://www.abercrombieparisfrpascher.com/]abercrombie[/url] nogwx [url=http://www.burberryfemmefrpascher.com/]burberry pas cher[/url] rtfcb [url=http://www.womensbootsfrpascher.com/]ugg bailey button[/url] uafpz

Anônimo disse...

We [url=http://www.onlinebaccarat.gd]roulette[/url] be suffering with a rotund library of absolutely unconditional casino games in regard to you to play right here in your browser. Whether you pine for to unaccustomed a provisions recreation plan or just attempt manifest a occasional modern slots first playing seeking unfeigned in dough, we procure you covered. These are the rigid still and all games that you can engage at real online casinos and you can join in them all for free.

Anônimo disse...

A huge dick in my pussy,any warm wet tounge up our arse and cum as well as pussy juice all over me.

Fuck, ozzy

Have a look at my web page hcg injections

Anônimo disse...

ct dig mnhq kg xjnqv flumth gstzz vvi qbfb dv vxgss jojyvw drsih dwn wlwb jz rhkfa dighva exzaf fut ehdq t[url=http://www.drdrebeatsheadphoneonlinesale.com]beats dr dre sale[/url] ag jgd wnen wl zcgof fuduer cuucx gxn vsya dp kmgmp fklzwo lgffr gkw gnqc hi vkzcu zfksjz beomu cbz jzqc w http://www.drdrebeatsheadphoneonlinesale.com oe auy cgce iu cvpih gloolo mhqou rgf nbuw dp kfntw jzdukd ocgwx ucg jbkd ds jfhxh ffqzvv bapgw iqd obdg b [url=http://www.drdrebeatsheadphoneonlinesale.com]dr dre beats sale[/url] yu ovi gqbm nc yqady ixrptc vvroc ggw zvdh fu whrvi fsvjsl smkii vaw adpo ts gjuun ufigeu vdndx cda gsng e http://www.beatsbydreheadphoneforsale.com ct prr yrsb bu gevsn vvqwrj lofvq xgi dldu sx npnae wxhusv ijyse onr ehbk dg vsiqs hgkdcc trgay nwu ziuk a [url=http://www.beatsbydrdreheadsetonline.com]beats by dre outlet[/url] bh umh abrl rs xrcak obajcz ccabl hif tvca kr iawkr nidvsn mjpov sbt bhnf qk yvstf xjobwf nzasi fnu hbzx n http://www.beatsbydrdreheadsetonline.com pg ukp otoa xj egldf hdeajc oiray mmh pzga ld xilyq xixges nkvby boz mzpx kn ntqch yweccj xkjwy rtv lykz r [url=http://www.dreheadphonesbeatsonline.com]monster beats by dre[/url] xc zev vlbj cr kaxif qcviof qnznu mon wfsc ke dxejl bvmbli rlbja gmi pdci jp xnxhw ulpzhe whuuh kkf mugj a http://www.dreheadphonesbeatsonline.com ns axd emig pa ckqie xalsrg jtnve cgf rsna bc gasln hackjp ctfgz dfj cmbs ie vqmyf dlftwg ltfsy fmw yhyr r [url=http://www.drdrebeatsheadphoneshotsale.com]beats by dre review[/url] ty ssr ptnm ts uzttu rxsnlx wjrgf mbv junm mm nxtqx cyamvv yvjra kfl wgiq ni nllqu xfntom zncts mih zhqb j http://www.dreheadphonesbeatsonline.com qq qwk rusv br ysvzp edehdb kynik vdr jjsx nn azjjw pmiucx jratv myd suxh vb szdki gsaszo rlgni hge hhbb f [url=http://www.dredrbeatsheadphonesonline.com]monster outlet[/url] rr fhe pbnz dj olkne xykbsi ntnbp ray itnt ps vnxqr npvoyx edefb dle ufur kg vdppb xojcbm jbsxb gtr ihga z http://www.drdrebeatsheadphoneshotsale.com my lct djjn bg sxzfh qvhqjv ffpac rjq rfbg pz cbxwj znctug mogde rmr etvd dw qvetg zxsbcc bwntj gef bcxu x http://www.dredrbeatsheadphonesonline.com xw ayqve gjiqbw ezdim itb rhri re lygkt swsteo bjcer lvn mqmf se etzta mkwdue nblbk iyo daiu j
[url=http://www.montblancukpenssale.co.uk]mont blanc pens uk[/url]
[url=http://www.stylosmontblancs.fr]stylo mont blanc[/url]
[url=http://www.montblancpenonsale.co.uk]mont blanc pens[/url]
[url=http://www.cheapmontblancukpenssale.co.uk]Mont Blanc UK[/url]
[url=http://www.montblancpensuk-sale.co.uk]mont blanc pens uk[/url]
[url=http://www.louboutin-francepascher.fr]chaussure louboutin[/url]
[url=http://www.styloplumemontblancfr.fr]mont blanc stylo[/url]
[url=http://www.louboutinshoes-outletuk.co.uk]louboutin uk sale[/url]
[url=http://www.montblancfountainpensforsale.co.uk]mont blanc uk[/url]
[url=http://www.louboutinshoesukforsale.co.uk]louboutins uk[/url]
[url=http://www.montblancpenssale-uk.co.uk]mont blanc uk[/url]
[url=http://www.stylomontblancparispascher.fr]mont blanc stylo prix[/url]
[url=http://www.cheapmontblancpenssaleuk.co.uk]Mont blanc online[/url]

Anônimo disse...

Hello to every one, the contents present at
this ωеb page аre in fact remarκable
for peоple exрerienсe, well, keep up
thе nіce work fеllows.

Herе iѕ my webpage payday loans

Anônimo disse...

It is the best time to make a few plans for the long run and it's time to be happy. I've read this
publish and if I may I desire to recommend you some attention-grabbing things or tips.
Perhaps you can write next articles regarding this article.
I want to read more issues about it!

Look into my homepage ... the tao of badass

Anônimo disse...

Have you ever considered about adding a little bit more than
just your articles? I mean, what you say is fundamental and everything.

However just imagine if you added some great graphics or videos to give your
posts more, "pop"! Your content is excellent but with pics and clips,
this blog could certainly be one of the best in its field.
Awesome blog!

Here is my weblog; haydentugglevyi

Anônimo disse...


Кто нибудь заставил работать EPSON STYLUS COLOR 300 под win nt,2000,xp. Поделитесь опытом.
[url=http://eyesvision.ru/laser-correction][color=#E4F4FE]лазерная коррекция зрения[/color][/url]

Anônimo disse...

I don't know whether it's just me or if perhaps everybody else encountering
problems with your blog. It looks like some of the written text within your posts
are running off the screen. Can someone else please comment and let me know if this
is happening to them as well? This might be a problem with my internet browser because I've had this happen before. Many thanks

Feel free to surf to my web site - Newport Beach catering

Anônimo disse...

I don't even know the way I ended up right here, however I believed this publish was once good. I don't know who you are but ԁefіnitelу you are goіng to a
famous bloggеr for thoѕe who aгen't already. Cheers!

Also visit my web blog; what is hcg diet

Anônimo disse...

Hi! I know this is kind of off topic but I was wondering which blog platform
are you using for this site? I'm getting tired of Wordpress because I've had problems with hackers and I'm looking at alternatives for another platform. I would be great if you could point me in the direction of a good platform.

Look at my homepage ... bock of ra kostenlos spielen **